Os vila-realenses podem orgulhar-se do seu passado, a nossa
terra foi desde sempre um bastião da luta contra o autoritarismo, os ditadores
e os candidatozinhos a ditadores.
Os que andavam na escola primária nos anos 60 lembram-se
certamente de ouvir que a mãe deste e daquele tinham sido presas dias antes do
1.º de Maio, uma medida preventiva da PIDE/DGS para prevenir manifestações ou
greves.
Lembram-se da loja da mercearia Dimia, do Sr. Madeira, na
Avenida, logo antes da “escola das “moças” que
no aniversário da morte do Gen. Humberto Delgado, exibia sempre um ramo
de flores na montra.
Lembram-se das idas do Baía, chefe da PIDE; ao Centro de
Saúde a jogar xadrez, enquanto, cá em baixo na rua, o meu Bento grita Miss
Piggy, Pig!
Lembram-se de como só se podia falar baixinho porque em cada
canto alguém tentava ouvir o que se dizia, para ir contar à PIDE.
Já poucos se lembrarão dos tempos da Guerra Civil de Espanha
quando a repressão e a guerra se abatia sobre os democratas, do outro lado da
fronteira.
Lembram-se quando só alguns podiam ir a Ayamonte, já que poucos
tinham direito a possuir passaporte e os jovens estavam impedidos de atravessar
a fronteira sem uma licença militar.
Lembram-se dos pneumáticos que todos os anos eram roubados nos
apoios de praia de Monte Gordo, pelos que queriam atravessar o Guadiana para
fugir à guerra.
Lembram-se da fome que se passou, quando não havia um figo
para comer e às sardinhas cortavam o rabo para que as conserveiras não as
roubassem, porque havia que as exportar a troco do ouro nazi.
Mas os vila-realenses nunca cederam à pressão da ditadura da
PIDE e da repressão e o meu velho e falecido amigo Olímpio, um carpinteiro da
terra que teve de fugir para França só regressando com a mulher e o filho,
também Olímpio, depois do 25 de Abril, quando era militante do PCP metia o
Avante por debaixo da porta da PIDE.
Vila Real de Santo António sempre foi uma terra maldita
durante o regime autoritário, aqui havia sede da PIDE e da Legião Portuguesa,
mas também daqui alguns, ainda que poucos, partiram em defesa da República na
Guerra Civil de Espanha. Aqui o Partido Comunista Português sempre encontrou
gente disposta a lutar e, mais tarde, os movimentos democráticos sempre
contaram com uma forte militância.
Os vila-realenses têm
motivos de orgulho em comemorar o 25 de Abril, aliás o seu orgulho vai para
além dos 50 anos do 25 de Abril, porque a sua luta pela democracia começou
décadas antes. Tem orgulho dos seus que lutaram em Espanha pela democracia, dos
que pegaram em armas no 25 de Abril, dos que deram a cara pelo PCP ou por
outros movimentos democráticos, num tempo em que não bastava um cravo lapela
para se inventar um grande democrata.
Celebrar a democracia e os 50 anos do 25 de Abril é honrar
todos os que deram tudo para que hoje possamos viver em liberdade, é assegurar
que a democracia existe para melhorar a nossa vida e não para que alguns se
aproveitem dela para enriquecer.
Infelizmente, Vila Real de Santo António que tem motivos de
orgulho pelo que durante muitas décadas representou para democracia, é hoje a
prova de que é preciso lutar pela democracia. Hoje há pessoas que recebem
visitas domiciliárias noturnas só porque colocaram um like numa página de que
alguns não gostam. Há quem tenha recebido ameaças físicas só por criticar o
poder. Muitos funcionários da CM são obrigados a falar baixo porque nos
gabinetes há sempre um lá colocado por ter bom ouvido. Não é raro vermos que
vai para o meio da praça só para fazer um mero telefonema com o direito à
privacidade.
Hoje os vila-realenses sabem que há quem seja de primeira e
quem seja de segunda, não são os jovens mais qualificados e capazes a serem
escolhidos, não os netos inúteis dos apoiantes do autarca, o filho do motorista
ou dos que o apoiaram na campanha. Hoje quem critica transforma-se
automaticamente num cidadão de segunda.
A democracia em VRSA está doente, foi ocupada por um
furúnculo que é preciso lancetar, para que voltemos a ter na CM alguém que seja
um dos nossos que nos respeite, que nos trate com igualdade, como sempre foi
depois de muitos mandatos.
Nunca assistimos ao espetáculo degradante a que estamos a
assistir, Nunca vimos um presidente da CM a proporcionar um espetáculo
degradante, cantando o “pimba, pimba, na cama!” ou colocando no seu Facebook
familiar o “Aguenta que dói menos”. Nunca se viu tanto bandeado e lambe cú inútil
a ser contratado, para não referir os familiares e amigos.
Nunca assistimos a uma terra tão abandonada e desmazelada,
tão maltratada pela incompetência, tão esquecida porque os recuros financeiros
são desviados paras as festarolas eleitoralistas e oportunistas de um autarca
que se se esqueceu do que prometeu e até daqueilo para que foi eleito.
Se Vila-Real de Santo António e os vila-realenses de todos
os tempos, sejam conserveiras, professores, pescadores, cuícos, católicos ou
evangélicos ou ciganos, são para nós motivo de orgulho, os dias de hoje são
motivo para percebermos que a democracia só sobrevive se todos lutarmos contra
o oportunismo, o abuso, a corrupção, a incompetência.
Por isso celebramos o 25 de Abril com um VIVA A LIBERDADE E
A DEMOCRACIA, porque é e sempre foi um grito de luta. Porque se a democracia
trouxe às autarquias os recursos que estas não tinham ou damos a cara à luta ou
esses recursos vão para os bolsos de alguns.
Hoje muitos vila-realenses são tratados como cidadãos de
segunda, sem direito à igualdade, como nunca sucedeu, nem em ditadura. Por isso
celebrar a democracia em Vila Real de Santo António dos dias de hoje é lutar
para que ela nos seja devolvida.