Para se estudar a temática do desenvolvimento ou, melhor, do subdesenvolvimento dos últimos anos, é uma boa ideia considera um ponto de partida. Podemos encontrá-lo na Monografia do Concelho de Vila Real de Santo António", de Ataíde Oliveira, que discrimina as atividades económicas do concelho no ano de 1907:
«Neste concelho e na Repartição de Fazenda, relativamente ao ano de 1907 encontramos o seguinte quadro:
Açougues (9) Agencia comercial (1) - Agentes do commercio rolante (1) Fabricantes de aguardente (8) - Mercadores de alcatrão (1) - Alfaiates (3) - Fanqueiros (10) - Alomocreve ou coveiro (1) - Arrais de embarcação (9) - Fabricante de azeite (1) - Barbeiros (7) - Barcos que navegam no rio (5) - Dono de bilhar sem botequim (1) - Botequim sem bilhar (1) - Boticários (3) - Caixeiros de escriptorio (3) - Fabricante de cal (1) - Emprezarios de calafate (3) - alugadores de carros (27) - M ercadores de carvão por miudo (1) - Mercadores de cereais (2) - Chefe de serviço de confecção do gaz (1) - Confeiteiro sem estabelecimento (1) Fabricas de conserva, exclusivamente de sardinhas (6) - Desenhadores para fábricas (1) - Despachantes (3) - Emprezario de espectaculos públicos (3) - Estalagens para commodo pessoal (4) - Estalagens para guarda de animais (2) - Mercadores de farinha (2) - Feitor (3) - Ferrador sem estabelecimento (1) - ferreiros (5) - Domo de forno de pão (2) - Alugador de carro funeral (1) -Fabrica de gesso (1) - Fabricantes de gazozas (2) - Fabricante de gaz para iluminação (1) - Guarda-livros (1) - Vendedor de leite (1) Dono de litografia (1) Fabricante de louça de barro ordinário (4) Mestre de navio de cabotagem, não tendo o comandante (1) - Moinhos de vento (4) - Moleiros (mestres de moinhos (3) - Operarios de calafate (2) - Operarios de carpinteiro (9) - Operarios de ferreiro (1) - Operarios funilieoros (3) - Pedreriros (6) - Pintor (1) - Tanoeiros (2) - Operarios de tecelão (1) - padeiro com estabelecimento (1) - Palheireiros com estabelecimento (2) - Vendedores de peixe fresco ou salgado (4) - Pilotos ou praticos da barra (10) Vendedores de relogios usados (3) - Estabelecimento de salga de carnes (1) - Sapateiros com estabelecimento de calçado (8) - Alugadores de seges (e) - Solicitadores de causas (4) - Tendeiros (23) - Tipografia (1) - Taberneiros (125) - Fabricante de vinho (10).»
Independentemente da imprecisão que resulta de se misturar algumas profissões com atividades empresariais e da curiosidade suscitada pelo número de alguns negócios, como o dos taberneiros que eram 125! e dos fabricantes de vinho, vale a pena refletir sobre se entre 1907 e 2017, cento e dez anos depois, se sente um grande progresso, apesar do crescimento de freguesias como Monte Gordo e Cacela, que até aos anos 40/50 eram pequenas aldeias, uma de pescadores, onde ficava o famoso sertão e um pequeno núcleo habitacional em torno da igreja, e a outra rural.
É óbvio que em termos relativos os autarcas da Vila Real de Santo António de 1907 teriam muito a ensinar aos autarcas de hoje. Em diversidade e em atividade económica Vila Real era uma terra dinâmica, hoje é uma terra morta, que se arrastas durante dez meses, à espera do mês de julho para iludir a miséria escondida por subsídios e caridade institucional dos Machadinhos.
Para os que se recordam do que era a vida económica e social durante os invernos, nos anos sessenta a Vila Real de Santo António de hoje é uma terra deprimente. A queda da atividade económica deste concelho merece um estudo sério, porque não é o encerramento das Minas de São Domingos, o assoreamento da barra do Guadiana ou o despareciemnto dos cardumes de sardinha que explicam tudo.
Quando em Lisboa se reúne o Web Summit talvez a São devesse juntar-se aos Machadinhos e ao admirador do Jose Marti e promover em Vila Real de Santo António o Poverty Summit. Se em Lisboa o tema é o empreendedorismo, o financiamento das novas tecnologias e o desenvolvimento, em Vila Real de Santo António os mandadores locais discutiriam a melhor forma de gerar pobreza facilmente convertível em votos autárquicos. Até poderiam convidar os amigos cubanos e outros amigos e admiradores de Jose Marti da América latina, porque de pobreza e democracia percebem eles com fartura.