O LODAÇAL AUTÁRQUICO



O triste espetáculo a que temos assistido nas últimas semanas, envolvendo governantes criados na “Cantera Autárquica do PS”, faz-nos lembrar o filme “Há lodo no cais” que retratava os mecanismos mafiosos nos sindicatos americanos. Ao ir buscar gente de confiança do aparelho autárquico, o governo tem-se vindo a afundar em sucessivos escândalos, a que se somam outras personagens que enriquecem à sombra de solidariedades das máquinas partidárias.

Se há gente que se envolve nos partidos e nas autarquias com a intenção genuina de servir os municípios e as suas populações, a verdade é que é um terreno fértil para relações do tipo mafioso, que se envolvem na política para obter proveitos. E como dizem os anarquistas “o poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente”.

Gente sem valor recorre aos partidos para terem carreiras “brilhante” onde nunca passam pelo crivo de concursos, as promoções são conseguidas com recurso aos padrinhos. Os chefes locais apoiam os chefes regionais, na esperança de um dia os sucederem. Os chefes regionais apoiam os chefes regionais para chegarem a governante e estes apoiam-se em gangues de gente de pouco valor. Os partidos tentam chegar ao poder para se apoderarem da máquina do Estado e no interior dos partidos surgem verdadeiros senhores da guerra que criam os seus exércitos privados para tentarem substituir os líderes. Esta dialética do poder é uma máquina que produz corrupção, atrás dos apoios negoceiam-se favores. Cargos, empregos, negócios que proporcionam luvas, empregos para a família.

Este fenómeno é visível em muitas autarquias, onde políticos fracos parece terem poços de dinheiro para as suas campanhas, nem se incomodam como os evidentes sinais de financiamento duvidoso de campanhas abastadas, porque as benesses para os próprios e para os que os apoiam superam largamente o investimento.

Quando se chega ao poder empregam os amigos e familiares, dão vencimentos chorudos a gente que pelo seu valor nunca consegui um emprego bem remunerado. Passam a ser gente de primeira e transformam os cidadãos comuns em pessoas de segunda.

O espectáculo é sempre o mesmo, concursos duvidosos, quando não concursos forjados, famílias inteiras a ocuparem os lugares, passando à frente de todos sem que lhes sejam exigidas habilitações ou aptidões e sem que se realizem concursos. Empresários a serem descaradamente favorecidos.

Depois engana-se o eleitorado menos culto com festarolas de música pimba e minis, fogos de artifício, promessas hilariantes e manipulação das situações mais desesperadas com promessas de casas, empregos e ajudas. É evidente que nunca cumprem as promessas, o pouco que dão é para os que se venderam, para os que se dispões a ter os ouvidos afinados ou à escumalha dos bandeados que não se importam de não honrar os compromissos com os seus eleitores a troco de trinta dinheiros.

Esperemos que os cidadãos percebam o que se está a passar, pondo fim à carreira política dos oportunistas, em defesa da democracia e do país, dos municípios e do povo português. Por este andar aqueles que inventam unidades em torno de oportunistas para combater fantasmas, serão aqueles que levarão a extrema-direita ao poder, porque se os partidos democráticos forem incapazes de gerar políticos honestos e estes forem derrotados por quem não olha a meios para atingirem os fins, é mais do que certo de que um dia uns estarão ricos e os seus filhos inúteis estarão bem na vida, enquanto outros terão de mais uma vez lutar pela democracia.

Esperemos que o primeiro-ministro e os líderes da oposição que um dia terão de lhe suceder percebam o quanto importante é apoiarem a meritocracia e sejam capazes de depurar os partidos democráticos, promovendo os mais honestos e mais capazes. É urgente que imponham valores éticos rigorosos na gestão dos partidos para que um dia e depois de tantas bazucas o país entre na senda do desenvolvimento.