UMA RELAÇÃO ESTRANHA



Independentemente do que se possa dizer de Cuba, das simpatias que possamos ter em relação a este país ou das posições em relação a alguns problemas como, por exemplo, o bloqueio, a verdade é que Cuba não é um país qualquer.

Não vale a pena pensar que as iniciativas associadas a Jose Marti, muito queridas do ex-autarca de Vila Real de Santo António, são inocentes e não visam a propaganda do regime. Ou ignorar que o programa ao abrigo do qual foram realizadas às cataratas se inscrevem num programa de ajuda à América Latina. Fazer de conta que tudo isto é tão natural como ouvir Luís Gomes falar à televisão cubana como se pertencesse ao comité central do PCP só pode merecer uma gargalhada.

O que levará um jovem ambicioso da direita europeia, cujo partido pertence ao grupo conservador, cujo partido quase apelou à Europa para boicotar Portugal por causa de um acordo político á esquerda, gostar tanto de Cuba? Para o regime cubano Luís Gomes não é um qualquer militante de base do PCP, tem direito a cerimónia pessoal de despedida na hora da partida de um embaixador de Cuba em Portugal, organiza as semanas culturais de propaganda cubana, algo que dantes se via na Festa do Avante e tem um estatuto destacado em Havana.

Pensar que tudo isto é espontâneo é uma pura ingenuidade, imaginar que um país com grandes dificuldades financeiras decidiu ajudar os pobres de Vila Real de Santo António é brincar com a nossa inteligência. A relação entre o regime cubano e um político da direita conservadora europeia não é decidida de ânimo leve ou por um qualquer cabo de esquadra. É algo que num regime como o de Cuba passa pelo crivo do partido, do governo e dos serviços de informação.

Como explicar que um autarca do PSD tenha em Cuba muito mais destaque do que o líder do PCP? A que título a presença "cultural" de Cuba em Vila Real de Santo António é mais forte do que na Festa do Avante? Que estatuto especial tem Luís Gomes para que seja convidado paras as cerimónias oficias na embaixada cubana? O que leva tantas vezes Luís Gomes a Cuba, onde é recebido com tantas honrarias? Que mais negócios e relações estão envolvidos nesta trama?


José Luís Gomes não é propriamente um Hugo Chavez e as suas relações muito íntimas com e em Cuba só podem existir porque são apoiadas pelo regime. Há algo de muito estranho nesta relação e dificilmente podemos acreditar que os acordos entre Luís Gomes e o regime cubano se ficam pelo que é do conhecimento público. Há muito mais nesta relação de tantas viagens do que umas musiquinas na companhia de um cantor cubano.