A PYONGYAN Á BERIA DO GUADIANA



Neste reino no Baixo Guadiana e Arenilha, onde parece termos um autarca convertido em pequeno monarca, cujo passatempo é fazer-se fotografar junto de tudo e de todos, o absurdo não parece ter limites.
O culto das personalidades onde muitos ou mesmo quase todos os que não lhe podem dizer não, porque são crianças, porque são funcionários da autarquia, porque esperam receber uma casa, porque são do mesmo partido, porque são entidades públicas que participam numa cerimónia pública, porque são profissionais ou empresários cuja atividade carece de licenças municipais, porque beneficiam de ser POC, porque vendem bolinhas na praia, porque de alguma forma ou de outra receiam que a sua vida seja de alguma forma pelo poder autárquico, são forçados a serem figurantes das fotografias que um político ambicioso e pouco escrupuloso coloca às centenas para promover a sua imagem numa página política de auto promoção.
Isto começa a ser uma cena do filme “voando sobre um ninho de cucos”, o absurdo ultrapassou todos os limites, tudo e todos servem para fotografias e quando já faltam motivos, porque ao fim de dois anos já lá vão 700 dias de mandatos e muitos milhares de fotografias desse modelo fotográfico autárquico, o carteiro puxa da sua imaginação e inventa mais poses, cenas e enquadramentos, inventa mais figurantes involuntários, não importando o ridículo das situações inventadas e o abuso do poder que isso significa muitas vezes.
Agora corremos um sério risco de em vez de termos um Reino do Baixo Guadiana passarmos a ver alguns referirem-se ao nosso concelho como a Pyongyang à beira do Guadiana. Já havia um bairro de Tóquio onde norte-coreanos vivem com os valores dos que vivem no seu país de origem, agora corremos um sério risco de ver os vila-realenses serem transformados em figurantes deste filme cujo realizador é o carteirista e o artista principal o moço de Viana.
Na nossa infância tínhamos nas salas da escola primária um crucifixo e a fotografia do Salazar, agora parece que as nossas crianças vão crescer vendo as fotografias de um autarca, um dia destes ainda o fotógrafo carteiro se lembra de fazer um dos seus vídeos patetas e põe as crianças a gritar “Araújo, Araújo, Araújo”.
Os professores certamente combinados com os autarcas, organizaram os trabalhos das crianças, escolheram bonitas fotografias e durante alguns dias ou, pelo menos horas, o trabalho de aprendizagem foi fazer um cartaz com as fotografias combinadas. No dia combinado os autarcas visitaram a escola e o fotógrafo motorista montando as poses e lá apareceu um post no Facebook com uma mensagem subliminar do mais ridículo que pode ser, as crianças de Vila Real de Santo António adoram o nosso senhor presidente.
Agora só falta levá-las em visita de estudo à aldeia do moço de Viana, para verem a casa onde nasceu, a escola onde andou e a igreja onde fez a primeira comunhão, tal como lá para os lados da Ásia as crianças vão visitar a casa onde nasceu o fundador da dinastia norte-coreana.
Se tudo isto fosse feito enquanto autarca, destinando-se a encenação a qualquer utilização por parte da Câmara Municipal ainda se poderia entender, mas depois de Sócrates ter sido criticado por contratar crianças na apresentação do computador Magalhães, todos sabemos que isto é ridículo. Neste caso é pior do que ridículo, as crianças foram arregimentadas pelo seu professor, numa escola pública e sem autorização dos pais para serem figurantes de um trabalho de propaganda política pessoal, destinado a ser usado na campanha eleitoral de um político, que parece ter medo de ir a eleições sem a vantagem de usar e abusar dos poderes e dos dinheiros autárquicos, para ganhar vantagem em relação a qualquer opositor.