Recentemente foi demolida uma das casas mais icónicas, a
casa do falecido professor Caldeira de que muitas gerações de vila-realenses.
Independente das contradições da personagem, a verdade é que a família
conservou a casa durante décadas. Mas não resistiu à “mudança” em curso e dela
nada restou.
Prédio a prédio temos vindo a assistir à perda do nosso património
arquitetónico, as decorações dos prédios, a janelas antigas, tudo vai
desaparecendo, dando lugar a uma arquitetura que não fará história.
Agora, assistimos a um espetáculo deprimente junto ao prédio
conhecido pelos seus últimos proprietários, a família Folque, ainda que o palacete
tenha sido mandado construir pela família Ramirez. Não admira que nos cheguem
manifestações de indignação, como a imagem que era acompanhada da pergunta “Acha
isto normal?”.
Não é apenas uma casa bonita, muito provavelmente a mais
fotografada de VRSA, é uma obra arquitetónica de grande qualidade, da responsabilidade
de um dos maiores arquitetos portugueses, autor de obras que são referência na
arquitetura portuguesa, como a casa dos Patudos, em Alpiarça e muitas outras
por todo o país. Ainda que não estando na página da Wikipédia dedicada ao
arquiteto Raul Lino, o palacete dos Folque deverá ser uma das suas obras
emblemáticas, uma jóia da arquitetura portuguesa.
Como explicar o crime que foi ali cometido, transformando a
sua fachada principal numa verdadeira central de lixo, com os contentores a um
metro da entrada principal? Como se explica que uma CM onde parece correr um
processo visando a instalação de um hotel naquele espaço decida transformar a
sua frente num enorme complexo de recolha de lixo.
Isto é um verdadeiro “assassínio” urbano, revela desprezo pela
sede do concelho, falta de cultura e uma prepotência que roça o estúpido e o
doentio. Despreza-se o património, assassina-se a fachada do prédio mais querido
do concelho, compromete-se a sua exploração hoteleira.
Trata-se de uma decisão que não se via desde que os bárbaros
invadiram a Península Ibérica, uma destruição arbitrária de umas das joias da
nossa cultura, um edifício lindo onde a arte do arquiteto Rui Lino se combina
com os traços da arquitetura do estilo pombalino.
É preciso ser imbecil, incompetente, ditador e ignorante
para se aprovar tal pouca-vergonha.