É a maior aberração do nosso concelho, há décadas que não
existe um porto de mar e apenas os românticos sonham com a entrada de paquetes,
esquecendo que o porto serviu atividades mineiras e agrícolas que já não existem,
que a foz do Guadiana dificilmente permite que paquetes, mesmo dos mais
pequenos operem em VRSA e que no mercado globalizado dos dias de hoje nunca
aquilo que foi um pequeno porto será um porto de mercadorias.
Até a pesca quase morreu e os que elogiam as estatísticas
das vendas de pescado na lota de VRSA parece ignorarem o modelo de
funcionamento das lotas. Se instalassem uma lota em Beja e se ali estivessem os
compradores espanhóis de marisco, é mais do que certo que mesmo sem mar Beja
teria uma lota movimentada.
Não faz sentido que quase toda a margem do Guadiana seja
gerida por uma empresa de gestão de lotas, a não ser que os seus responsáveis considerem
que há a possibilidade de tantos terrenos soba a sua jurisdição sejam
utilizados em investimentos no setor. Não é isso que tem sucedido e todos
sabemos que no tempo do Luís Gomes, quando o Apolinário era o presidente da
DOCAPESCA tentaram um negócio imobiliário muito duvidoso, só que a empresa foi
apanhada nas malhas dos Panamá Papers e acabou por desaparecer.
A sul os terrenos vão do início do Sapal até ao cais de
desembarque na Alfândega. A Norte vão da rotunda de acesso a Monte Gordo até ao
mar. Isto é, as melhores zonas da sede do concelho estão ao Deus dará e há décadas
que assistimos ao seu abandono e degradação. Até agora nenhum investimento associado ao
famoso cluster do mar exigiu muito mais espaço do que já é usado.
Na margem norte a situação é mesmo escandalosa pois a zona
não tem sequer esgotos e em pleno século XXI surgem investimentos turísticos
manhosos usando fossas sanitárias, havendo mesmo a possibilidade de existirem
esgotos a serem atirados para o rio. É neste quadro que sem se saber como nasceu
um verdadeiro promontório e um empreendimento turístico.
Qual é o critério da DOCAPESCA para alugar os terrenos que
estão sob a sua jurisdição para que em vez de atividades ligadas à pesca surjam
negócios turísticos? Quais são os critérios da APA em matéria de fossas,
esgotos e construção de promontórios? Qual é o papel da CM e para que servem os
seus serviços de fiscalização?
Nos Três Pauzinhos nasceu um bar no meio das dunas, agora
aparece um promontório na margem do Guadiana, tudo negócios promovidos pela APA
e pela DOCAPESCA sem qualquer respeito pelo ambiente ou pela arquitetura. Um
dia destes não via haver nada a fazer e desde as dunas à margem do Guadiana
tudo estará preenchido por negócios bem sucedidos porque sem quaisquer
contrapartidas para o concelho e sem quaisquer critérios urbanísticos ou
ambientais. É a lei da selva promovida pela APA, pela FDOCAPESCA, pela CM e
pelos “senhores” da terra cheiro de gula e de oportunismo.