Infelizmente, alguns políticos locais não conseguem perceber que o sucesso ou insucesso no combate à pandemia não é argumento político e muito menos algo que de alguém se possa socorrer com objetivos eleitorais. Mas o desespero dos que precisam tanto dos cargos políticos como os jumentos precisam de manjedouras bem aviadas para encherem a barriga, leva a que tenhamos de assistir a espetáculos.
Uns sugerem que a culpa é do povo e a coisa só vai com chicote (falam tanto se chicote que até já os imaginamos em sessões Sado). Outros inventam lotarias para aparecerem nas fotos como madres Teresas de Calcutá a distribuir a sopa dos pobres. Ainda ontem vimos o autarca de Castro Marim apelar aos seus munícipes para se afastarem dos tavirenses como se tivessem lepra.
Por este andar ainda alguém se lembra de mandar chicotear os doentes por não terem tido o cuidado de evitarem a doença, porque para os doentes mentais a culpa da doença é sempre do doente. Já vimos isso com muitas doenças, o que nunca tínhamos visto eram responsáveis políticos a tratar os vizinhos como leprosos ou a defenderem a condenação dos que são vítimas da doença. Enfim, talvez o mafarrico os apanhe e faça com que passem um mau bocado, talvez deixem de ser tão hipócritas.
A verdade é o concelho está sofrendo, porque alguns dos nossos são vítimas da doença, porque as pessoas vivem num ambiente de medo e porque se as coisas já não estavam nada bem no plano da economia local, com este aumento do número de casos na região e, em particular, no nosso concelho é uma má notícia para o pouco comércio que consegue manter as portas abertas.
Há mesmo uma pandemia e já não é possível esconder ou
ignorar a realidade, só não sabemos qual a dimensão real do problema, ainda que
pelos poucos dados que nos deixam conhecer é realmente grave. Isso significa
que temos de nos unir contra esta pandemia, porque só assim manteremos as
escolas abertas, protegemos a saúde e vida dos mais vulneráveis, salvar o que é
possível salvar na economia local e impedir que o rasto de miséria alastre
ainda mais.
É um momento de luta e de solidariedade, porque se o nosso vizinho é vítima da doença é com solidariedades e não com chicotes castigadores ou guizos de leprosos que devemos responder. É perguntando se precisam de ajuda,, porque uma família em isolamento pode não ter quem lhe compre víveres, muito provavelmente perde a fonte de rendimentos ou mesmo o emprego. A pandemia combate-se com solidariedade e não com medo, ódio ou velhacaria, como aquela que temos visto nalguns políticos.
(Já não vivemos na época medieval, onde os doentes ficavam á
porta das cidades e eram vistos como os culpados de todos os males, tal como
documenta a imagem)