A PROCISSÃO DOS "INOCENTES"

 



Há uns tempos juntavam-se os nossos autarcas em amena cavaqueira, num beberete no hotel Vasco da Gama, sem qualquer distância social, sem máscara. Na ocasião criticámos o mau exemplo e tivemos de aturar o Dr. Amaral. Vivíamos um verão feliz, a autarca até se gabou que tudo corria bem graças ao seu trabalho de sapa. Um verão tão feliz que, estranhamente, em Monte Gordo não se respeitavam os horários de encerramento dos estabelecimentos, as esplanadas fechavam às 2h e consta que em muitas casas fechavam as portas, mas os clientes continuavam lá dentro. 

Quando VRSA inaugurava a segunda vaga a nossa autarquia fazia silêncio sobre os dados, dizia que os desconhecia, ao mesmo tempo que a autarca dizia apenas aos seus amigos o número de casos. A mesma autarca que agora se queixa de a ARS de Faro não a deixar ajudar nos inquéritos epidemiológicas, negou-nos a informação durante meses, porque o Ciprianistão estava imunizado. 

Chegavam-nos notícias de que dentro das instalações das autarquias era um regabofe, a máscara era uma espécie de farda que se apresentava na porta de armas, lá dentro andava tudo à civil. Faziam-se reuniões numa sala exígua do PSD com um infetado, comerciantes locais discutiam qual dos cafés deveria ser a sede da Casa do Benfica, para que aí se juntassem os benfiquistas para ver os jogos na TV, um deles até clarificava os pormenores, a receita das bebidas era para a casa. 

A bandalhice no concelho era total, quando o país evitava a propagação da doença, por aqui escondia-se a realidade, viam-se jantares de fado em direto no Facebook, promovia-se, como se faz há mais de uma década, a imagem da terra de sucesso, uma terra espetacular onde só há felicidade. Era preciso enganar os espanhóis, com a Feira da Praia suspensa era a oportunidade dos comerciantes da Avenida, havia que encher a avenida e até o Hotel Apolo dava a boa vinda à invasão.

 A avenida encheu-se de compradores, alguns comerciantes ignoravam o número máximo admitido nos seus espaços, até se falou no Facebook do despedimento de uma empregada (com ordem para ira para a rua mal abriu a boca) que questionou o patrão sobre isso. Qualquer comentador que questionasse o espetáculo triste a que se assistiu era atacado, a bem do comércio local. Algum desses comerciantes dedicou parte dos lucros conseguidos desta forma pouco digna aos que agora sofrem as consequências económicas da pandemia que ajudaram a propagar-se? 

Políticos incompetentes, comerciantes gulosos e até os imbecis dos araujianos anónimos dizem agora que a culpa é dos outros, a começar pelas próprias vítimas da pandemia. Enfim, uma verdadeira procissão de velhacos.