MISÉRIA AUTÁRQUICA

 



É muito difícil sermos confrontados com a morte de amigos, vizinhos e familiares, gente que cai inesperadamente por causa de uma pandemia que há poucos meses era inimaginável, é um pesadelo. E quando quem cai é uma jovem com um filho de meses sentimos um murro no estômago, um murro tanto maior quando a conhecíamos ou aos familiares. 

Lamentavelmente a nossa autarquia levou meses para que a autarca tivesse dado uma palavra de conforto aos familiares das vítimas. Nas terra de sucesso não se podia falar de morte, a autarca era a grande líder da Protecção Civil que nos protegia. Quando criticada por ignorar os nossos vizinhos desculpava-se com a lei da protecção de dados, um argumento cínico para não enviar as condolências aos que sofriam com a morte dos seus. 

Mas agora que as televisões apareceram a nossa autarca não resistiu à tentação da fama, mandando para as urtigas a lei da protecção de dados. Agora já não se incomodou em revelar informação sigilosa, já que nenhum autarca tem o direito de dizer a que consultas vai um cidadão. Com as televisões deu jeito a imagem da senhora bondosa. 

“também nos foi pedido através da CM de Castro Marim o nosso apoio psicológico que demos à família e  estamos dispostos para tudo o que for necessário” [São Cabrita] 

Mas, o mais grave, é que a senhora disse algo absolutamente incrível, que a jovem que faleceu vivia no nosso concelho e que era muito conhecida, pelo que decidiu dar apoio psicológico à família a pedido do autarca de Castro Marim. O quê? Para que a autarca faça o que deve em relação a cidadãos de VRSA  é necessário que o autarca de Castro Marim lhe telefone a pedir ou a meter uma cunha. 

Toda a gente conhecia a jovem, todos sabíamos que os familiares viviam no concelho e a autarca precisa da cunha do presidente da CM de Castro Marim, Enfim, mais miserável é mesmo muito difícil.