CONTAS DE PASTELEIRO


 

Quem acabou de ouvir o Pedro Pires a falar das dívidas e do património da CM de VRSA só pode ter rido à gargalhada, que pelos argumentos utilizados, quer pela forma como o homem se ia engasgando ao mesmo tempo que falava, como se ele próprio estivesse pouco à vontade. 

Quem é que nas redes sociais disse que a dívida da CM era de 300 milhões de euros?

Compreende-se que o porta-voz do PSD queira desvalorizar intelectualmente quem tenha denunciado a dívida colossal da autarquia, algo que o PSD sempre tentou iludir. Por aqui nunca nos iludimos quanto à dívida, apontando para valores entre os 150 e os 200 milhões. Estávamos enganados?


É bom recordar que até a própria São Cabrita reconheceu ter sido “enganada” ao admitir que a dívidas era muito superior, o António Cabrita falou mesmo de “herança envenenada”. É bom recordar que o próprio FAM assumiu que foi surpreendi por dívida que estava manhosamente ocultada. Resta agora saber quanto mais dívida poderá estar escondida.

Só dois exemplos, a indemnização que terão de pagar a um quadro da CM que foi abusivamente despedido e cujo processo tem-se arrastado graças a sucessivos recursos, mesmo depois de ter havido um acórdão do Tribunal Constitucional está considerada? Os 500 mil euros recebidos pela venda de um lote de terreno que não pertence à CM estão considerados na dívida? 

Quais as garantias da dívida da CM? 

Quando Pedro Pires equipara as receitas da venda das águas a uma garantia bancária para a dívida está mentindo. A maior parte das dívidas ou são ao FAM ou é de bancos com garantias do FAM. Aliás, foram as garantias do FAM que permitiram renegociar a dívida da banca. Dizer que as receitas futuras da CM são uma garantia para dívidas passadas é apenas uma manifestação de ignorância.

Como é que se deu o milagre do património?

Entre outros absurdos o porta-voz do PSD apresentou como resultado milagroso da gestão do PSD a valorização do património que no tempo do Eng. António Murta valeria 15 milhões e agora vale 200 milhões. Inspirados no negócio da pastelaria diríamos que o património da CM levou um poderoso fermento, um segredo do nosso Pedro Pires. 

Afinal, a CM não estava à beira da insolvência ou empenhada por mais de 30 anos, como disse a própria São numa reunião com um empresário que foi enganado. VRSA recebeu um verdadeiro euromilhões, o Luís Gomez fez o milagre dos pães, transformou 15 milhões em 200 milhões. O que o Pedro Pires não disse foi quanto desta verba não passou de uma reavaliação de ativo. E também não disse que com esta reavaliação de ativos o Luís Gomes levou o endividamento a níveis impensáveis.

O que é isso de reduzir a dívida por conta das receitas futuras da venda das Águas?

Uma das mais divertidas cambalhotas numéricas do Pedro Pires foi quando comparou a dívida com o “investimento” nos esgotos. Disse o homem que se as obras dos esgotos custaram 70 milhões e que mais os 70 milhões de multas que teríamos de pagar à EU por causa de uma decisão da Comissão por causa do lançamento dos esgotos para o rio, daria 140 milhões, precisamente o montante da dívida. 

Isto é, gastou 70 milhões, mais 70 milhões que não pagámos em multa e está a dívida justificada. O problema é que isto não passa de um truque de circo e nem sequer estamos perante um número de ilusionismo, mas sim de uma palhaçada numérica. A verdade é que apenas a obra pode ser usada para pagar a dívida, mas para podermos fazer essas contas precisamos de uma avaliação rigorosa e honesta, bem como saber qual foi a comparticipação do Estado e dos fundos europeus. 

Sugerimos ao Pedro Pires que se dedique à pastelaria pois essa parece ser a sua vocação. Ficamos à espera dos argumentos do mago das finanças, o tal que transformou os 15 milhões de património em 200, o que dá um lucro de 185 milhões, isto é, a CM não tem dívidas, nós é que ainda devemos 45 milhões ao Luís Gomes, a diferença entre o valor da dívida conhecida e a valorização que resultou da magia do Luís Gomes.

Aguardaremos pelo podcast do programa para voltarmos a debater estas receitas de pastelaria.

PS: é uma pena que o vereador Álvaro Leal não tenha conseguido desmontar esta patranhas tão fáceis de desmentir.