QUEM VAI RECEBER CASA?



Quando um político que nunca teve dificuldades na vida, que conseguiu mordomias e vantagens à custa de cunhas, vulgo tráfico de influência, promete uma casa a quem não a tem está obrigado a cumprir, porque está jogando com aqueles que mais precisam.

É inaceitável, imoral e eticamente condenável que uma classe política que pouco ou nada trabalhou na vida, que vive acima da média mais graças aos esquemas de máquinas partidárias corruptas, use as dificuldades dos que mais precisam, para conseguirem votos, que depois servem para serem mais poderosos e conseguirem ainda melhores estatutos sociais.

Por isso achamos que o presidente da CM deveria ter um momento de honestidade intelectual e reconhecer que nunca teve 120.000.000€ para habitação. Durante dois anos o Araújo promoveu a pantomina da habitação e gabava-se deste investimento quase absurdo numa única freguesia do país, a de VRSA.

Só que o Araújo, mesmo quando questionado por um dos seus deputados municipais, o “independente” Pôla, limitou-se a dizer que o dinheiro dos investimentos realizados já tinha chegado. Só que esses dois investimentos (Monte Fino e Prédios de renda condicionada) era menos de um décimo do investimento total prometido.

Os 120 milhões de que o Araújo tanto se gabou não resultaram de qualquer contrato com o PRR, mas sim de um acordo de financiamento ao abrigo do 1.º Direito, o que não é a mesma coisa, como se percebe da leitura dos contratos que assinou com o IHRU.

O primeiro acordo com o IHRU previa um investimento A primeira versão da Estratégia local de habitação previa um investimento total de 80.275.513€ dos quais 72.501.744€. Posteriormente a CM apresentou uma atualização do investimento para 120.000.000€, ainda que o novo acordo não esteja disponível online.

Mas, vale a pena ler este acordo porque percebe-se desde logo que nos termos dos quais caberia à CM um investimento direto da diferença entre 80.275.513€ e 72.501.744€, e o restante corresponderia a um subsídio a fundo perdido de 34.162.565€, cabendo à CM investir nada menos do que 38.339.179€, podendo este montante ser financiado pelo 1.º Direito com um juro bonificado.

Isto é a CM teria de investir necessariamente 7.773.769€ +38.339.179€, podendo a segunda parcela resultar de crédito. Acontece que a CM nem tem os 7.773.769€, nem pode recorrer ao crédito porque está proibido pelo FAM.

Este acordo está em vigor, mas na verdade a CM não tem dinheiro para o levar para a frente. Então onde entra o PRR?

A seguir à pandemia a União Europeia adotou o PRR e o Governo decidiu que os investimentos realizados ao abrigo do 1.º Direito seriam financiados a 100% e foi assim que o Araújo correu com um hoteleiro para comprar o Monte Fino r proporcionou lucros absurdos aos fundos proprietários dos prédios com renda condicionada.

Só que o que o governo decidiu não foi financiar todo o investimento previstos nestes acordos, que continuam em vigor. O PRR financiaria esses investimentos enquanto houvesse fundos disponíveis e quem investiu mais cedo foi buscar o dinheiro, os outros ficaram a chuchar no dedo e foi esse o caso do Araújo. Se o Governo não investir mais em habitação, fora do PRR, não haverá mais dinheiro.

Isto é, quando o Araújo prometeu casas porque tinha os tais 120.000.000€ do PRR estava faltando à verdade. Nem esses 120 milhões assentavam nalgum contrato com o PRR, como o dinheiro deste fundo estava esgotado.

Portanto, quem deu o voto a troco de casa bem pode esperar. Percebeste Pôla Alturas?