Felizmente o país conseguiu sair da situação em que se
encontrou aquando da crise das dívidas soberanas. A situação financeira está
longe de ser desafogada mas a credibilidade do país aumentou e desta vez é
certo que os países em dificuldades não vão ser deixados à sua sorte.
Superada a crise financeira percebeu-se a importância do
combate à evasão fiscal e do rigor financeiro por parte do Estado. Sem o e-fatura
dificilmente o país teria recuperado, o impacto deste mecanismo de controlo da
faturação, dos movimentos de mercadorias e dos inventários nas receitas de IVA
e, de forma induzida, em todo os outros impostos foi tal que hoje Portugal consegue
ter orçamentos equilibrados.
Infelizmente, no nosso Município é a desgraça que se sabe,
do lado da arrecadação de receitas a situação é de bandalhice, do lado da
despesa assistimos a uma verdadeira orgia financeira que durou mais de 12 anos,
até se ter gasto o que tinha, o que não se tinha, o que se previa vir a ter, e
o que se imaginava ser possível ter. O resultado é o que se vê. Mas regressemos
à questão da evasão fiscal.
Há quem trate a evasão fiscal de forma complacente, vendo-a
como uma forma legítima de proteger os rendimentos dos abusos do Estado. Mas
quando alguém não entrega ao Estado o que o seu cliente lhe entregou a título
de IVA. Não está a exercer um qualquer direito de legítima defesa, está sim a
roubar ao cliente que lhe confiou dinheiro que deveria ser entregue aos cofres
do Estado.
É por isso que na hora de percebermos que faltam os
ventiladores para salvar vidas não é para a ministra da Saúde deste governo ou
de qualquer outro que devemos apontar o dedo, é para o cidadão nosso vizinho
que ao contrário de nós não cumpriu com os seus deveres cívicos. O tal vizinho
que é tão simpático e provavelmente um cidadão exemplar, um modelo de virtudes,
não passa de um traste que enriquece à custa do empobrecimento do país.
A seguir a esta crise um dos temas do debate político vai
ser a evasão fiscal, porque vamos perceber que o Estado não dispõe dos recursos
suficientes, que para que todos sejam apoiados há uns que pagam a dobrar por
conta das vigarices dos outros. A evasão fiscal é uma doença da democracia
portuguesa, deve ser combatida e desmascarada porque sem isso não há desenvolvimentos
e continuaremos a ver os oportunistas a exercerem concorrência desleal aos
cumpridores.