CARTA A D. LUÍS CUNHA, GRANDE DO REINO DO CIPRIANISTÃO

 


Caro D. Luís Cunha,

 

Antes de mais um pedido de desculpa por me dirigir a um ilustre confrade do atum, braço direito e lambe ditos do grande grão-mestre do atum enlatado, mas estou certo que aceite o pedido de perdão deste pobre plebeu do reino do Ciprianistão onde, como se sabe o meu ilustre senhor pertence à alta nobreza e é um dos grandes do reino, um dos confidentes mais apreciados da nossa alteza real.

Venho por este modernaço meio que tal como as boas praias e o maravilhoso clima são dádivas da nossa São (o nobre senhor não me pode ver, mas quando me dirijo à sua madrinha e majestade do Ciprianistão até me ajoelho em sinal de respeito pela maior beleza que Deus deu `*a nossa privilegiada terra) graças à nossa São. Não fosse a influência transcedental de sua madrinha e majestade já estaríamos a bater o dente e as areias de Monte Gordo serrim tão pretas como as da Ilha do Pico.

Mas o que me traz não é a tentação de fazer de lambe cus de sua majestade, já que para esse papel tenho uma longa fila à minha frente, são tantos os que o fazem de forma tão zelosa que o seu dito cujo até parece de um bebé nascido por cesariano. Não, o que me trás não são lambedelas em traseiros reais, até porque isso nos está vedado por não pertencermos à nobreza local como o ilustre amigo, apenas queremos fazer o que resta fazer a um plebeu, agradecer.

Sim, vimos pedir encarecidamente pedir ao ilustre Senhor Luís Cunha que agradeça em nosso nome à São do Ciprinistão, pelas muitas benesses que temos recebido e que passamos a discriminar:

Um monte de envelopes cheios de dinheiro, que fez com que além do 13 e 14.º meses tenha também o 4.º ano, isto é, o ano das vacas gordas (que me perdoem as vacas e as gordas do nosso reino) que no nosso Ciprianistão é uma espécie de boda dos pobres em véspera de eleições autárquicas.

A esplanada que mandei instalar no meu estabelecimento e cujas taxas não pago e graças a Deus também não preciso de pagar as multas. Aliás, ainda o regulamento não estava aprovado e eu já estava a renovar a esplanada.

As contas dos depósitos cheios de gasolina.

As horas extraordinárias que não fiz e as ajudas de custo de viagens que realizei sem sair do meu lugar.

As caixas de charutos e de garrafas de medronho que generosamente me fazem chegar a casa.

Os grandiosos cabazes de Natal pagos com o dinheiro dos meus vizinhos.

As idas a Cuba para tratar de furúnculos, cataratas, pernas empenadas e demais maleitas para as quais só os cubanos têm resposta médica.

As consultas que me pagaram no Hospital Particular de Lisboa, onde muitas vezes fomos gentilmente transportados pelo senhor Faustino.

As cirurgias no Hospital Particular de que ninguém soube quem mas pagou.

O excelente emprego que sua majestade mais o seu “escudeiro” Araújo e a amiga deste na Mão Amiga  me arranjaram, um lugar nos POCS, onde trabalho sem saber se nesse mês se atrasam no pagamento e por onde ando há 10 anos  sem subsídio de férias, sem subsídio de Natal e sem seguro de acidentes de trabalho.

Até sinto uma imensa gratidão por ter podido ver as nádegas do José Castelo Branco, um traseirinho quase tão nobre como das mais altas individualidades do Ciprianistão e que me deixou descansado, porque já vi tudo o que desejava na vida.

Ainda bem que o Senhor Luís tem o papel de andar a dizer quem tem dívidas no Ciprianistão e nos recordou que deveríamos estar eternamente gratos à sua madrinha. O que seria do Ciprianistão sem servidores fieis como o amigo Cunha.