Em VRSA o PSD não é um partido qualquer, é aquilo a que
podemos designar por partido do regime, está para VRSA como o PCUS estava para
a antiga União Soviética. Neste concelho o PS identifica-se com o Estado ao
nível da autarquia e quando o PSD governava até se identifica com quase todo o Estado,
já que o autarca local acumulava com a direção distrital do PSD, o que lhe
conferia o estatuto de vice-rei do Algarve.
Até com o PS já no governo e em plenas autárquicas de 2017,
com António Costa era primeiro-ministro, o então presidente da autarquia fez
questão de exibir a sua influência, mesmo sobre órgão da Administração Pública Central,
enquanto o partido de António Costa fazia uma arruada em Monte Gordo, o então
autarca fez questão de se fazer passear na companhia do responsável local do
PSD.
Tal como nos tempos da Constituição de 1936 em VRSA havia
liberdade de expressão, mas quem abrisse a boca era melhor pensar antes se de
alguma forma não poderia vir a precisar de algum autarca. Não faltaram os que
depois de receber um telefonema se viram obrigados a apagar posts no Facebook. Ainda
recentemente havia quem fizesses ameaças via Facebook a quem ousasse criticar a
autarquia. Até um concidadão de idade que criticou o programa eleitoral da CM
recebeu um aviso: “eu sei onde moras!”.
Se no outro tempo era preciso aderir à Legião Portuguesa
para se exercer determinados cargos no Estado, todos sabemos que quem não era
do PSD era um cidadão de segunda, os seus direitos eram reduzidos na hora de arranjar
um emprego público, até para receber apoios sociais era bom que fosse simpático
para o regime.
Mas parece que o regime começa a ser um fantoche e se alguém
tem dúvidas que vá ver os resultados das diretas do PSD para a escolha do líder.
Num concelho de mais de 15.000 eleitores os que votaram cabem numa turma de uma
escola, se todos os funcionários da CM, já com a SGU integrada, e que são
militantes do PSD tivessem ido votar é provável que os votos seriam muito mais.
Basta juntar a família Cabrita, a família Gomes, os assessores
da construção civil, os clérigos e os ex-sindicalistas, mais o Pires e outros
notáveis, incluindo vereadores e deputados municipais, para termos os trinta
votantes. Isto significa que temos uma autarquia gerida por uma equipa que
conta com um parido onde há trinta votantes. É evidente que o ridículo da situação
não retira legitimidade à escolha feita e que agora governa o concelho, como se
sabe. Mas mostra como a democracia pode muito facilmente ser pervertidas por
meia dúzia de pessoas, destruindo a sua representatividade e credibilidade.