SAI UMA TRAVESSA DE CARACÓIS PARA A DONA CARMEN POLO

 



A Dona Cármen Polo, esposa do ditador espanhol Francisco Franco, era famosa pela sua mania de ir aos melhores joalheiros de Madrid, onde “comprava” joias valiosas dizendo aos joalheiros que mandassem a conta para o Palácio Real de El Pardo. Como é óbvio não há memória de alguém ter tido a ousadia de cobrar as compras da senhora, já que corriam um sério risco de irem trabalhar como condenados políticos para o Vale de los Caidos. 

Este comportamento revela uma forma de corrupção moral de políticos e, por vezes, de altos responsáveis do Estado, que usam o seu poder como intimidação. Tudo se passa como se existisse um código de linguagem, que evita terminologia que sugere corrupção, extorsão ou outros crimes. 

É frequente dizerem na hora de pagar a despesa do restaurante que se esqueceram da carteira em casa ou do porta-moedas no toldo da praia. Os menos descarados pedem a conta na esperança de alguém responder “está pago”, “já alguém pagou” ou “é por conta da casa”. Quando as coisas “correm mal” sempre se tem direito à oferta de um aperitivo especial, de um bom digestivo ou, pelo menos, de uma travessa mais bem composta. 

Tal como sucedia-a com a mulher do Franco também muitas esposas de políticos pensam que têm os mesmo poderes, não sendo raro que na hora da fatura se digam que o marido depois passa lá, para pagar. E esta forma de conseguir “”gorjetas” forçadas não se fica pela água no bar da praia ou pela travessa de salada, há quem se fique escandalizada porque na escola de dança pediram o pagamento das aulas da filha. 

É evidente que ainda que não se trate de corrupção no sentido do Código Penal, estamos perante comportamentos que indiciam elevados níveis de corrupção moral. Que direito tem um político que já é bem pago, muitas vezes para ser um incompetente, de não pagar o que compra, sugerindo que têm poderes que pode usar para se vingar de quem tiver a ousadia de pedir a remuneração a que tem direito. 

E desiluda-se quem pensa que é um exclusivo dos que estão no poder, também os da oposição que estão no clube dos que podem vir a ser eleitos, se sentem no direito de uma “meia dose” desta pouca vergonha. Este é o primeiro degrau da corrupção pura e dura, daquele corrupção que há pouco tempo nos permitiu ver a “Ramona”. A corrupção dos políticos começa pela corrupção moral e pelo abuso, corrupção que pode ir da oferta de cargos ou de meras remunerações miseráveis de POC a troco de votos a muitas outras formas de usar e abusar dos poderes públicos para ganhar votos, para conseguir cargos públicos.

Começa-se pelo prato de caracóis e acaba-se da forma que se viu recentemente em VRSA, com a Ramona estacionada na Praça Marquês de Pombal. Esperemos que nem tão cedo volte, ainda que com tanto dinheiro a ser gasto para promover políticos e com a cultura corrupta da oferta de empregos a troco de votos, lugares de candidatos ou de testemunhos não tenhaamos aa certeza de que a cultura da corrupção não nos traga mais surpresas.