Nos negócios com o Estado não é normal que ocorram
adjudicações a empresas com um capital social de 100 €, aliás, nenhuma empresa
privada aceitaria tais negócios e muito menos um grande empreendimento imobiliário.
Tratando-se de um investimento no âmbito do PRR e sabendo-se
que a Procuradoria-Geral da República anunciou que iria acompanhar de perto
estes investimentos para prevenir fraudes, uma Câmara Municipal recordar-se de
uma velha máxima. O divórcio de Júlio César da sua segunda mulher, Pompeia,
imortalizou uma frase que se transformou num ditado popular por todos
conhecido: “À mulher de César não basta ser honesta, é preciso parecer
honesta”.
Não só a situação sugere muitas dúvidas, como não se percebe
como uma entidade estatal, neste caso a CM de Vila Real de Santo António, faz
um negócio desta dimensão com uma empresa menos credível do que a da sua mandatária
da juventude, que tem o exclusivo da venda de fardas e de material de
escritório para a CM. Diria que tem mesmo menos credibilidade do que a carrinha
dos crepes.
Quando o Estado faz um negócio destes exige currículo,
experiência, capacidade financeira e um percurso impoluto ao parceiro e estando
em causa verbas do PRR dever-se-ia ser ainda mais rigoroso do que
habitualmente, até porque se sabe que estes negócios estão sendo rigorosamente
escrutinados.
Qualquer técnico com experiência no combate à fraude e à corrupção,
que ouça falar neste negócio e saiba que a empresa envolvida tem um capital de
100€ ouve todas as campainhas dos alarmes a tocar. E foi isso o que sentimos.
É óbvio que essa empresa não tem nem experiência, nem
empregados nem músculo financeiro. E quem tem, os verdadeiros investidores que
estão por detrás do negócio preferiram ficar atrás desta empresa de fachada.
Este negócio implica a compra de um terreno que vale muito
dinheiro e estranha-se que muito antes da adjudicação já corresse a notícia
deste empreendimento, o próprio Araújo falou muitas vezes de habitação para a
classe média como se algo já estivesse em curso. Também muito antes do negócio
se concretizar já estavam sendo realizadas sondagens no terreno, o que
pressupõe que se sabia o que iria ser construído.
Mas as dúvidas adensaram-se com a reunião de esclarecimento
em que o Araújo tentou convencer os residentes da zona do Cine Foz das virtudes
do seu negócio. Nessa reunião, questionado por um morador sobre a credibilidade
de uma empresa com um capital de apenas 100€ este desvalorizou esse fato,
informando que a empresa teria sido criada para este empreendimento.
Se as dúvidas já eram muitas, com esta resposta é que a “porca
torceu o rabo”! Fomos investigar a criação da empresa na página do Ministério
da Justiça que disponibiliza os atos societários e, como se pode verificar na
imagem do documento, a empresa em causa. A GREENPRIME, PROMOÇÃO E GESTÃO
IMOBILIÁRIA, LDA” foi criada em 29 de
novembro de 2021.
Se a empresa foi criada especificamente para este negócio
como se explica que a sua criação tenha ocorrido quase três anos antes da
adjudicação, quando o edital da intenção da CM de VRSA de adquirir habitações tem a data de 22 de dezembro
de 2023?
Curiosamente a empresa tem o endereço de um edifício onde
estão as sedes de de várias empresas sem quaisquer ligações, isto é, trata-se
de uma empresa que aluga caixas postais. O mais divertido é que as duas
sociedades que são sócias desta empresa têm o mesmo endereço, Avenida Boavista,
n.º 3067, 4100-136 Porto.
Mas se procurarmos por este endereço no Google ficamos a
saber que a Together And Solid - Promoção Imobiliária Lda, a OPORTUNIDADE
TEMPESTIVA LDA,Edifício Sede Ferreira Construções - iLobo arquitectos e outras
empresas têm a mesma sede.
Mas as nossas perplexidades não se ficam por aqui. Quando
uma entidade pretende promover uma adjudicação desta dimensão, importância e
com o imperativo de transparência por tratar-se de dinheiros europeus, fá-lo de
forma a atrair o maior número e as melhores empresas. Para isso dá-se a maior
divulgação possível.
Mas não foi isso que a CM, preferiu divulgar o edital num canto
do site. Como é óbvio, as empresas não andam a correr os sites de 308 câmaras
municipais em busca dos editais. Como era de esperar o concorrente foi a GREENPRIME,
a tal empresa que foi criada em 2021 para concorrer a um concurso publicado em
2023!
Tudo isto suscita numerosas dúvidas que infelizmente não são
as primeiras nos negócios do Araújo, pode dizer-se mesmo que o percurso deste
autarca tem sido uma procissão de negócios questionáveis que indiciam irregularidades,
quando as mesmas não são mesmo evidentes.
É o caso da cobertura da escola que foi realizada muito
antes da adjudicação e que levou o Araújo a declarar numa conferência de
imprensa que não se importava de ir para a cadeia porque estavam em causa das
aulas, como se os fins justifiquem os meios e Portugal fosse a República das
Bananas e ele o autarca mais dedicado deste mundo.
No caso dos famosos prédios da Rua de Angola, assunto a que
voltaremos em breve, os fundos imobiliários ganharam uma fortuna. O Araújo que
sempre defendeu os direitos da CM nesses prédios esqueceu-se de tudo o que
havia dito no passado recente e comprou-os a preço de mercado, proporcionando
lucros pornográficos aos fundos, sabendo que nas matrizes constavam uma
anotação de que estavam condicionados a rendas controladas.
No caso do Monte Fino havia um empresário que ia relançar o
Apartotel, mas de um dia para o outro e depois de receber um telefonema cheio
de ameaças, desistiu do investimento que ia fazer. Fê-lo numa altura em que já
se preparava para residir no concelho
Enfim, com este Araújo ficamos a achar que em cada cavadela
dá uma minhoca.