Se por um lado não falta gente fraca que vê na política uma forma de singrar na vida para além do que o seu valor pessoal permite, por outro não faltam empresários que encontram nestes ambiciosos oportunistas o meio de conseguirem ganhar para além do que a competitividade das suas empresas seria capaz. Se na base da pirâmide dos partidos se encontram os candidatos locais, são também estes o princípio das estruturas corruptas ou corrompidas.
As autarquias têm um imenso património imobiliário que é vendido com uma facilidade que não vemos no património do Estado. Têm também um poder imenso de valorização do património privado através do PDM, para além dos seus poderes em matéria de licenciamento. Não admira que os empresários menos escrupulosos gostem de ter os seus políticos locais e a melhor forma de os ter na mão é serem eles próprios a produzi-los.
Aqui começa o problema dos financiamentos das campanhas, com grandes investimentos publicitários nos seus políticos de mão os interesses empresariais, em especial os imobiliários, apostam nos políticos que querem ver no poder. É óbvio que estes políticos depressa percebem que é aos que lhes pagaram as campanhas eleitorais que devem obedecer e não aos cidadãos eleitores, que enganados por poderosas campanhas de marketing julgaram ver neles a competência e honestidade que não têm.
Por sua vez, quanto mais autarcas elegerem mais poderosos serão os dirigentes regionais, os que quando o seu governo está no poder mandam nas estruturas regionais do Estado, colocando nestas estruturas, tais como as CCDR, as estruturas do IEFP, a agência do ambiente e outras, gente obediente, em regra pessoas do mesmo partido. Por sua vez, serão estes os dirigentes que um dia escolherão os dirigentes nacionais e muitos outros, que ganhando as legislativas integrarão os governos e muitas estruturas do Estado, vulneráveis aos bois.
É nesta imensa estrutura piramidal que se gera aquilo a que
se designa no tráfico de influências e corrupção. Como vimos no caso de
corrupção que envolve a mais importante personalidade do PSD local, a que o MP
designou por Operação Triângulo, em matéria de corrupção não há diferenças
partidárias e vemos um deputado do PS do círculo eleitoral de Santarém a ser
indicado no crime de corrupção ativa, isto é, suspeito de lambuzar as mãos no dinheiro
fácil da corrupção de uma autarca do PSD.
A mãe da corrupção, a base desta imensa pirâmide de relações e interesses que estão destruindo as autarquias e o país é o financiamento dos políticos locais, porque é esse financiamento que leva a que muitas vezes não estejamos a escolher o mais honesto ou o mais competente, mas sim o que investiram na melhor campanha com o dinheiro dos que os querem ter no poder.
Não vale a pena estarmos surpreendidos com a Operação
Triângulo ou com o fenómeno da escravidão em Odemira, como se lá longe podemos
apontar a corrupção ou o esclavagismo de empresários oportunistas e sem
escrúpulos. Não vale a pena fazer de conta de que por estas bandas nada se
passa e é tudo muito belo e espetacular.