Nem nos tempos do Salazar, quando o Estado estava longe de
ser laico e as salas da escola primárias exibiam um crucifixo e a fotografia do
ditador, se viu um político ser tão oportunista em relação aos sentimentos
religiosos das pessoas.
Não há missa ou procissão onde o Araújo não apareça na fila
da frente, revelando uma total falta de humildade, para impor a sua presença e que
todos os vejam, sempre com aquele ar de penitência. E quando se diz que não há
missa ou procissão é literalmente verdade, porque alargou a sua presença às
missas evangélicas.
Ainda antes de ser autarca já fazia campanha nas excursões
do Asdrúbal a Fátima, onde abusivamente pegava no microfone dos autocarros para
fazer os seus comícios ao estilo das homilias que aprendeu no seminário.
Isto é puro oportunismo e uma vergonha para a democracia, onde este aproveitamento se deixou de ver de norte a sul do país, e ainda mais para o partido onde se enfiou na esperança de subir na vida, já que o PS é um partido que se afirma republicano e laico. Isso não impede que os seus dirigentes e militantes tenham convicções religiosas e sejam praticantes. Mas impede aquilo a que temos assistido em VRSA, o aproveitamento político dos atos religiosos.
Este aproveitamento é óbvio quando, para além da esposa, se
faz acompanhar do vice-presidente ou do vereador Horta, o militante da CDU eu se
bandeou e de um dia para o outro, sem mais explicações, deixou de atender os
telefonemas dos camaradas. Agora além do Araújo aparece sempre o Horta com um
ar ridículo de quem carrega a cruz mais todos os pecados do mundo.
A única exceção, a bem da verdade é o vereador Álvaro Leal
que continua a separar política de religião. A chefe de gabinete também não
aparece nas cerimónias religiosas, já que ao contrário de outras ocasiões
nestas o lugar ao lado do Araújo está reservado para a esposa, como convém a um
bom cristão.
Por este andar, não seria de espantar se o Araújo viesse a
conseguir ser reeleito, as salas das escolas do concelho terem ao lado do quando
uma foto do Araújo e um crucifixo, como nos tempos do salazarismo.