Para que VRSA se assemelhe a uma espécie de “Sicília do Baixo Guadiana”, já só faltam as Vespas, os sicários e os tiro. A Máfia da Sicília, a Camorra de Nápoles ou a 'Ndrangheta da Calábria, são estruturas do tipo mafioso com um grande enraizamento social e religioso. Se recuarmos ao tempo anterior ao negócio das drogas, os negócios das organizações mafiosas italianas estruturavam-se em torno de um triângulo formado por empresas do setor do imobiliário e da prestação dos serviços ao Estado e autarquias, da pobreza e da caridade social.
Ao mesmo tempo que geram grandes lucros as máfias são verdadeiras obras benfazejas e os seus padrinhos dedicam-se com denodo aos seus protegidos, para usar termos muito típicos de gente formada nas sacristias. A Máfia gera grandes fortunas para os padrinhos ao mesmo tempo que à sua volta se mata o desenvolvimento e se reproduzem as bolsas de pobreza.
E neste quadro miserável que vemos os grupos mais pobres e incapazes de sair do circulo vicioso da pobreza serem precisamente os maiores admiradores e crente na bondade dos padrinhos. E quando algum padrinho era levado pela polícia ouviam-se os pobres indignados, que não podia ser, que o padrinho era a bondade em pessoa, generosos como ninguém e, acima de tudo isso, tementes a Deus.
Na nossa terra todos sabemos como as eleições são ganhas, todos sabemos de onde jorra dinheiro para que o concelho seja transformado num vergonhoso bairro da lata de outdoors. Todos sabemos dos envelopes de dinheiro que para os mais pobres era a prova da generosidade dos candidatos e a prova de que o voto no candidato do “esquema” garantiria uma fonte de rendimento extra.
Se em Nápoles os comerciantes têm de pagar o “pizzo” à Camorra, aqui, quem recebe a autorização para uma esplanada já sabe que deve ficar grato a título vitalício e que o “pizzo” local tem a forma de voto, sob pena de nunca mais ter direitos em relação à autarquia. Se de alguma forma a família depende do poder da autarquia sabe que não se pode candidatar por uma lista da oposição, nem sequer no último lugar dos suplentes.
Uma funcionária que seja nora de um candidato da oposição deve abster-se de sair à rua com as filhas e o sogro, sob pena de ser colocada a trabalhar no local com as piores condições. Ser candidato e ao mesmo tempo funcionário da autarquia é motivo para que alguém familiar do autarca o acuse de mal-agradecido, como se fosse a poderosa família a pagar os vencimentos do seu bolso.
Na hora das eleições vale de tudo, envelopes com donativos de
uma qualquer organização mais generosas, centenas de trabalhadores “escravos” (os
famosos POC) colocados em ano eleitoral e o medo de ser identificado. No meio
disto tudo compram-se as almas e temos uma terra cheia de bandeados, gente que
se vendeu ao poder para viver melhor, mesmo sabendo que estão ajudando a
destruir a sua terra.