PAQUETES NO GUADIANA?

 


 

De vez em quando alguémpõe imaginar o último Queen Elizabeth navegando no Guadiana, lembrando o passado, quando as dezenas de traineiras e enviadas saiam uma a uma a caminho da foz. Esta utopia tem sucesso certo, da mesma forma que já vimos ter sucesso a ideia de um teleférico entre Aiamonte e VRSA. O último candidato a explorar a ideia foi o do PS, aos microfones da Rádio Guadiana.

Terá a foz do Guadiana condições para proporcionar a passagem em segurança de um navio de grande calado como um navio de cruzeiros? Um navio com estas características poderia entrar ou sair a qualquer hora, com qualquer maré?

O velho porto de VRSA é acessível ao navios com o calado dos navios de cruzeiro, independentemente das marés?

VRSA seria um destino de interesse turístico para que um navio de cruzeiro fizesse um desvio, gastando aqui um dia em vez de o usar num destino no Mediterrâneo?

Seria viável construir as infraestruturas portuárias necessárias e estas seriam viabilizadas por um número razoável de visitas de navios de cruzeiro?

Qual seria o volume de investimento necessário para a construção das infraestruturas portuárias?

Quais os custos variáveis para assegurar o funcionamento de um terminal de cruzeiros (SEF, autoridades marítimas, GNR, AT, etc.)?

Quem investiria nos meios necessários, como, por exemplo, os vários rebocadores necessários para as manobras de atracagem e entrada no rio?

O porto teria capacidade para competir com os portos concorrentes, como, por exemplo, o de Portimão, que dispõe de um cais 430 m, capaz de receber navios com 230 m e com um calado até 8 m?

É muito questionável que a curto e médio prazo tal projeto seja viável, o Guadiana dificilmente  terá canais de acesso muito profundos, capaz de proporcionar a sua navegabilidade por navios de grande calado independentemente das marés. Mesmo que à custa de fortes investimentos em dragas a sua manutenção teria de ser quase constante. Trata-se de um rio internacional pelo que ao empenho de várias entidades nacionais ter-se-ia de ter a colaboração de Espanha.

É lógico falar de navios de cruzeiro quando somos servidos por uma linha férrea arcaica e por uma EN 125 que está num estado miserável? Se uma obra de tal magnitude e com desafios tão grande está aquém dos recursos e de poderes de uma autarquia, fará sentido que os candidatos a autarcas usem este sonho para se promoverem?

Faz sentido falar de locais de acostagem para pequenas embarcações turísticas, dever-se-ia discutir a forma como a margem do Guadiana e as suas infraestruturas portuárias são geridas, dever-se-ia estudar qual o futuro do Guadiana em setores como a pesca, a construção naval e a prestação de serviços a embarcações de pequeno calado.

Seria bom que se falasse da realidade em vez de andarem a vender sonhos e a sugerirem que para tudo e mais alguma coisa encontrarão soluções “sentando-se com o Governo”, como se não fossemos mais do que um entre 308 municípios em Portugal e os governos não costumam gerir os recursos em função da influência dos autarcas e muito menos quando os candidatos não têm qualquer dimensão regional ou nacional. O melhor é que em vez de sonharmos com paquetes a atracar na Muralha, devemos ser nós a atracar à realidade.