Faz todo o sentido, diríamos mesmo que é uma ideia brilhante a de comparar a auditoria feita à Caixa Geral de Depósitos por ordem do ministro das Finanças, que por coincidência até é nosso patrício, com a recusa da presidente da autarquia de fazer uma auditoria à dívida acumulada pela autarquia.
Perante o buraco financeiro resultante do fato de as imparidades terem esgotado o capital da CGD, forçando a sua recapitalização sob pena de o banco falir ou de ter que ser privatizado em condições financeiras semelhantes às do Novo Banco, Mário Centeno decidiu mandar fazer uma autoria rigorosa às práticas da CGD na gestão de créditos.
Assim, um país que se sentiu roubado vê reconhecido o direito de saber quem o roubou ou para onde foi tanto dinheiro. Macis ou menos o mesmo direito que os vila-realenses sentiram e continuam ao sentir já que durante muitos anos eles vão ter de pagar a dívida com taxas, multas e impostos, sem receber nada da autarquia, que durante esse tempo estará em recibos mínimos, gastando o pouco que tem com os tiagos, os faustinos e os vicentes desta terra.
Os argumentos usados pela presidente da autarquia, no que foi oficialmente seguida pelo PSD local num comunicado que foi a última prova de vida deste partido, seriam válidos para a CGD. Que o banco tinha sido sujeito a auditorias, a relatórios dos revisores oficiais de contas, que a auditoria é cara. Aliás, a CGD era sujeita a muitos mais auditorias e controlos do que a CM de VRSA, já que às entidades que fiscalizam as autarquias temos de acrescentar o BdP, o BCE e outras, bem mais independentes, já que para os lados da Av. João XXI não se vão ao Mestre Abílio comer o peixinho fresco do Tozé. Digamos que comparar a vigilância de uma equipa do BCE com um pequeno contabilista de Borba é mais ou menos a mesma coisa que comparar o dito cujo com as respetivas calças.
MAS se os portugueses sabem agora o que se passou na CGD, os vila-realenses nunca saberão o que se passou na CM, um dia, quando alguém independente conseguir aceder aos processos é bem provável que encontre pastas vazias e fatos que há muito prescreveram. Nunca saberemos quanto dinheiro foi pago ao hospital dos manos Bacalhau, quanto se pagou em almoços e dormidas de novos eleitores convidados a virem para o concelho, quanto se gastou em fogos e festas, quanto se pagou em publicidade à comunicação social do regime, quanto euros foram mandados para Cuba, quanto se gastou em viagens, quantos cubanos andaram a viver à nossa conta e que funções tinham.
Nunca saberemos nada, da mesma forma que desconhecemos o conteúdo de muitos estudos que dizem ter sido feitos e sabemos que foram pagos a peso de ouro, não temos acesso aos relatórios de auditorias, tudo é opaco, sabe Deus porquê. Mas sabemos que, afinal, a mesma presidente que em tempos disse que as contas estavam todas auditadas, há beem pouco tempo disse que só agora e depois de auditar processo a processo estava em condições de saber quanto é que o concelho devia. Isto significa que depois dos relatórios do FAM relativos a 2017, das auditorias do Tribunal de Conta, dos relatórios do senhor revisor de contas e apesar de vivermos no século XXI, onde as operações financeiras devem ser registadas segundo regras rigorosas, a mesma presidente da CM que impediu a auditoria à dívida, assume que só conseguiu saber o seu montante ou, o que é mais provável, que ficou a achar que sabia o seu montante, seis meses depois de ter impedido uma auditoria à mesma dívida, argumentando que as contas da autarquia estavam bem feitas e devidamente auditadas e certificadas.
É por isso que vale a pena comparar o que se fez na CM de VRSA com o que foi feito na CGD ou o que decidiu uma vila-realense na nossa autarquia com o que um outro vila-realense mandou fazer na CGD. É a diferença entre métodos democráticos e os métodos do Baixo Guadiana, entre a transparência e a opacidade, entre a verdade e a recusa em que a mesma seja conhecida.