Na sua génese as autarquias e a democracia autárquica eram a base de uma democracia onde há proximidade entre cidadãos e eleitos. Os órgãos autárquicos são instituições numa democracia à escala dos concelhos, com o seu executivo e parlamento próprios. Seria de esperar que cidadãos vizinhos, empenhados em resolver os seus problemas comuns dialogassem em torno das soluções, aceitando e promovendo as melhores ideias.
Infelizmente gente perversa tendia reverter os princípios e em muitos concelhos os que se desejaria que fossem democracias exemplares acabam por se transformar em regime autoritários. Encontramos aí todos os ingredientes dos regimes autoritários, informadores, “gorilas”, funcionários que prestam juramento ao poder como se ainda estivessem no tempo da Legião Portuguesa, empresários duvido que ganham com o apoio ao poder, encenações de apoio popular com a arregimentação de serventuários.
E se os regimes autoritários tendem acabar arruinados, porque a ausência de um escrutínio popular exigente conduz ao esbanjamento, a incompetência, enquanto a realidade dá lugar à bazófia, nestas pequenas democracias adulteradas pode suceder o mesmo, depois de a bazófia inventar falsos paraísos acaba-se na ruína e com o futuro comprometido. É curioso como os muitos autoritarismos parecem a obedecer a um livro de regras comum, não se distinguindo em função da ideologia, da dimensão, dos continentes ou das épocas.
E uma das regras comuns é a desvalorização da oposição acusando-as de criticar em vez de fazer propostas, como se os autoritários fossem modelos de dedicação e os seus críticos fossem inúteis que só sabem criticar. Quando se sentem em dificuldades os responsáveis pelo autoritarismo recorrem a este estratagema para se ilibarem das responsabilidades. Depois de anos e anos a ignorarem olimpicamente as propostas das oposições, recorrendo a gente menor para votarem nos seus fretes a troco de favores, começam a atacar o carácter dos que fazem oposição.
De um momento para o outro os que traíram passam a ser modelos de dignidade, os que foram autistas transformam-se em gente de diálogo e os que foram prejudicados, perseguidos, marginalizados são transformados pelos rastejantes destes regimes numa espécie de doentes mentais. Os bandidos não foram os que inventaram empresas para levar à ruína, mas os que consideram essas empresas como inutilidades, não foram os que deram o seu apoio a troco de negócios fáceis, mas antes os que foram penalizados por ousarem criticar em democracia.
Quando estão arruinados, quando percebem que estão a perder metamorfoseiam-se em belas borboletas, esquecem-se de tudo o que fizeram e foram e da forma menos digna descobrem que, afinal, há oposição.