COVID-19: PODEMOS ESTAR TRANQUILOS?




Felizmente os indicadores parecem afastar Portugal do cenário que vimos em países como a Itália e a Espanha, a adoção pelo governo de medidas de limitação dos contatos sociais, mesmo contra a vontade dos sábios da saúde, tem tido resultados positivos. Ao mesmo tempo, a generalidade dos portugueses têm demonstrado um elevado rigor, ainda que aqui ou acolá nos primeiros dias tenhamos assistido a alguns disparates coletivos.

Se os cidadãos seguirem as indicações, forem rigorosos nos cuidados a ter, se tiverem o cuidado de proteger as pessoas mais vulneráveis e as autoridades nacionais e locais estiverem à altura do desafio impedem que se multipliquem os casos de contágio pela comunidade. Felizmente são muitos os concelhos, como Castro Marim ou Alcoutim, que ou não registaram casos ou os casos que ocorreram não deram lugar a contágios na comunidade. Por outro lado, os condicionalismos impostos à circulação e que serão reforçados durante a Páscoa, contribuem para que a pandemia alastre a regiões onde ainda não se faz sentir.

Mas isso não significa que possamos estar tranquilos, os dados estatísticos divulgados pela Direção-Geral de Saúde são positivos, mas estão longe de nos tranquilizar. Além disso não há uma informação clara que permita concluir que os dados de hoje sejam comparáveis com os de há uma semana. Se os casos de doentes hospitalizados por sofrerem uma forma mais severa da covid-19, os casos de doentes ventilados e os casos de falecimentos são inquestionáveis, já o número total de infetados depende dos critérios de seleção para a realização das análises.

Olhando para o gráfico e sabendo que alguém que foi contagiado poderá ter sintomas de 7 a catorze dias depois e que a evolução da doença na maioria dos casos não passa pelo seu agravamento, pelo que nos casos mais graves a morte pode ocorrer depois de alguns dias de hospitalização, sabendo-se que os especialistas referem que as pneumonias provocadas pelo covid-19 leva a períodos longos (2 a três semanas) de ventilação em cuidados intensivos, teremos de avaliar o número de falecimentos de hoje comparando-o com o número de infetados de há 10 ou 15 dias.

Se considerarmos os valores dos gráficos os falecimentos que ocorreram ontem terão sido de doentes que foram contabilizados há 10, 15 ou mais dias. Se considerarmos que há quinze haviam 2060 casos e que há dez dias haviam 5170, não é difícil de prever que daqui a dez diz teremos uma variação diária de falecimentos que se situará acima dos 30, já que hoje há cerca de 12500 doentes.

Além disso a estratégia de combate à epidemia varia em função das circunstâncias e a seleção das pessoas a sujeitar a análises tem variado ao longo do tempo. Além disso os materiais para as análises são escassos, sabendo-se que há quinze dias sabiam-se os resultados no dia seguinte ao aparecimento de sintomas e agora há quem se queixe de tardarem uma semana ou mais. Enquanto nos primeiros tempos quase se andava à procura de doentes agora há muita gente com sintomas que fica dias a aguardar para que sejam feitas análises. Aliás, o critério de seleção de doentes para análises pode mudar de país para país, nalguns países fazem-se o maior número de análises, enquanto noutros, como o Reino Unido, chegou-se a pedir aos doentes que consultassem o médico após vários dias de persistência de sintomas.

Mesmo sabendo-se que o pior da pandemia pode estar para vir e para durar durante um período mais ou menos prolongado, há razões para estarmos tranquilos, razões que devem servir para dar o esforço por bem feito, justificando que prossigamos no mesmo.

Não são os dados que promovem a epidemia, mais do que a ação das autoridades nacionais ou locais, somos todos nós que evitamos que a pandemia se alargue ou que conseguimos que mais nenhum vila-realense seja contaminado. Com ou sem sintomas devemos evitar ao máximo o contacto social e os que trabalham nos lares, no comércio ou em qualquer atividade deve comportar-se nas relações com os utentes das suas instituições, com os familiares ou com os amigos sempre no pressuposto de que podem estar contaminados sem o saber.

É possível estancar a pandemia no nosso concelho, no Algarve, no país e no mundo, se cada um de noz fizer a sua parte e cumprir com a sua obrigação. No fim a vitória ou derrota será sempre coletiva.