CANDIDATOS MODELOS DE VIRTUDES FAMILIARES

 


Não é tradição das democracias europeias a utilização da família em campanhas políticas, em democracia o que nos importa é competência, a isenção, a honestidade ou outras qualidades que garantam que as nossas escolhas sirvam a sociedade. Se não está em causa o caráter dos candidatos pouco nos importa a beleza das esposas, das filhas ou das cunhadas, se o cão foi recolhido num canil ou se é de raça e tem lacinhos na cabeça, se o candidato é solteiro ou solteirão ou qual a sua orientação sexuaL 

É natural que num país onde durante cinco décadas tivemos um regime político assente na afirmação de “Deus, Pátria e Famílias” surjam políticos oportunistas, que de forma descarada tentam usar a religião, a família ou valores mais ou menos nacionalistas para se afirmarem. Isso é muito frequente na direita mais conservadora, mas de vez em quando aparecem algumas “ovelhas tresmalhadas” a recorrer a estes valores ideológicos, como se o bom político fosse o político perfeito, uma espécie de modelo exemplar, uma mistura dos bons valores de outros tempos. 

É raro ver os nossos políticos fazerem campanhas recorrendo a toda a família, desde o sogro ao lulu. A tradição da nossa democracia é os políticos não se esconderem atrás de sacas de alfarrobas ou do lulu da família, para esconderem as suas insuficiências até porque, como se explicou, atrás deste modelo de políticos exemplares, que ajudam o sogro, que são chefes de família” exemplares, ou que não perdem uma oportunidade para se afirmarem tementes a Deus e exemplos de católicos, apostólicos e romanos, está uma carga ideológica que cheira a mofo. 

A últimas vez que vimos um político usar de forma oportunista e descarada, usando a imagem da esposa e os seus atributos físicos, já aconteceu há muitos anos, quando José Maria Carrilho se candidatou a presidente da CM de Lisboa. Neste caso nem sequer se sentia o mofo de alguns valores ideológicos herdados dos tempos do salazarismo e muito ensinados em instituições  como os seminários e na Mocidade Portuguesa. 

Carrilho era mais ao estilo da revista espanhola HOLA, onde as personalidades públicas aparecem com frequência em família. Junta-se a família, reunida no sofá da sala, com a árvore de Natal bem enquadrada e o lulu ao colo de alguém e com um fotógrafo e algum jeito temos o candidato perfeito, a imagem fica, se é bom chefe de família é qb, fica dispensado de dizer o que sabe, de ser competente, de ter uma carreira política isenta de nódoas.