POLÍTICA E RELIGIÃO

 


 

Durante décadas o país sob o país viveu sob o lema salazarista “Deus, Pátria e Família”. Não só não havia separação entre Estado e Igreja e a dupla dos tempos do seminário formada pelo Salazar e pelo Cardeal Cerejeira impôs ao país, a todos os crentes ou não crentes, aos crentes desta ou daquela confissão, esta visão de seminaristas, de um país que devia aceitar que todas as normas da sociedade deviam obedecer aos seus padrões religiosos. 

Com a democracia as religiões ganharam dignidade no sentido em que cada um afirmou a sua crença sem que os seminaristas e catequistas se sentissem no direito de serem vigilante da sociedade. Quase todos os partidos afirmam a laicidade como princípio, independente das crenças religiosas dos seus militantes ou dirigentes. PS, PCP, PSD, BE têm na sua militância crentes de várias confissões, mas na hora de “fazer política” a religiosidade de cada um faz parte da sua intimidade. 

É natural que haja mensagens de boas festas, mas a utilização intensiva do Natal e das mensagens a ele associadas como instrumento de afirmação é um abuso, usar a quadra natalícia para passar discursos políticos é um oportunismo com tiques de outros tempos. 

A última missa da procissão de Monte Gordo foi transformada numa espécie de comício pluralista, com o PSD a dividir o palco com a líder do PS local. A São inaugura o Presépio e dias depois é o candidato do PS a ir com um fotógrafo para se aproveitar da imagem do presépio para fins políticos. E o último vídeo de PS não se percebe bem se é um discurso do candidato do PS sobre o Natal ou uma espécie de homilia política. 

É lamentável que ao fim de quarenta anos de democracia estejamos a assistir ao regresso de tiques há muito eliminados da democracia, com gente a transformar um partido profundamente laico numa sacristia salazarista.

PS: Parece que inspirado nos tempos de seminários a candidatura do homem escolhido pelo Rui Setúbal lançou uma opa sobre o Natal, transformando a quadra natalícia numa verdadeira campanha eleitora. A jogada é boa, ainda que possa meter algum nojo, quando os políticos se abstém de se meter na religião este candidato usa e abusa do tema. Até já nos disseram que no dia 26 vamos ter outdoors de esperança, um tema muito natalício. Parece que os outdoors da dívida ficam para depois. Enfim, o setubalismo político no seu melhor.