Quando SE fala sobre corrupção é usual cometer dois erros, o primeiro é limitar o conceito ao estipulado no Código Penal, como se não existissem muitas formas de corrupção, designadamente dos valores, não previstas como crime. Por outro lado, centra-se muito a atenção no enriquecimento ilícito e subvalorização as suas consequências na destruição do tecido económico e social saudável.
Atribuir uma avença a alguém que não tem as devidas habilitações para dessa forma o premiar por algo que não é a contraprestação pelo pagamento realizado é uma forma de corrupção. Da mesma forma, atribuir uma avença a alguém pelo desempenho de uma tarefa que muitos outros poderiam realizar com igualdade, para dessa forma evitar o concurso público e favorecer alguém a troco de votos ou de simpatias pode não estar previsto no Código Penal, mas não passa de mais uma das muitas formas de corrupção que atingem a sociedade portuguesa.
Atribuir uma avença a um qualquer jovem de “boas famílias” pode ser uma decisão tão ingénua quanto a contratação de um político desempregado ou de um qualquer falso especialista de frentes disto ou daquilo. Mas ao gastar dinheiros públicos para favorecer alguns está-se a dar uma mensagem à sociedade, os que não se “venderem” ou que não sejam das simpatias do poder o melhor é emigrarem ou mesmo desistirem de qualquer ambição.
Este tipo de favorecimentos tem como consequência o apodrecimento da sociedade, ao criar condições para que os menos capazes, os mais dados à ilegalidade ou os menos competitivos vencerem os que mais apostam na honestidade e na competência estamos destruindo a competitividade de um concelho, de uma região ou mesmo de um país.
A corrupção é uma das principais causas do nosso subdesenvolvimento e a ela estão associados muitos fenómenos que nos reduzem a competitividade. Para que sejamos uma sociedade saudável e enriquecermos em termos coletivos com competitividade económica teremos de favorecer a honestidade, o rigor, a competitividade. A corrupção não está apenas numa qualquer caixa de robalos. A corrupção é um fenómeno mais complexo e assenta no facilitismo generalizado em relação à corrupção de valores éticos e de cidadania.