Toda a gente sabia que aquele talude poderia desabar a
qualquer momento, mas a irresponsabilidade era muita e nada se fez, os
autocarros cheios de crianças continuaram a usar a estrada, os camiões pesados
usavam-na para transportar o mármore, todos iludiam o risco. Se estava em risco
de desabara há tantos anos poderia muito bem esperar outros tanta, com sorte
até poderia desabar à noite ou num momento em que não circulasse qualquer veículo.
Os autarcas de Borba optaram pela velha regra dos
portugueses segundo a qual o vaso cai sempre em cima do vizinho. Independentemente
das consequências penais há uma conclusão política óbvia, houve negligência. A
mesma negligência que assistimos um pouco por todo o lado num país onde se morre
acidentalmente de uma forma quase exagerada,
A segurança e a proteção da saúde pública são duas funções
essenciais do Estado, na nossa civilização atual os cidadãos confiam no Estado para
que lhes garanta segurança e saúde pública. São responsabilidades que consomem
uma boa parte dos recursos nacionais, mas que também obrigam a elevados níveis
de empenhamento das autarquias. São estas a célula base do sistema nacional de
proteção civil, da mesma forma que as autarquias têm um papel igualmente fundamental
na proteção da saúde pública.
Se neste domínio a CM não tem os mesmos poderes que tem nas
questões da proteção civil, as responsabilidades da autarquia são muito grandes
no domínio do saneamento. As falhas no sistema de saneamento podem ter consequências
muito graves. A proliferação de ratos e de baratas, espécies que podem ser
portadoras de um grande número de doenças. A negligência no saneamento pode ter
como consequência o desenvolvimento de ocos epidémicos de doenças muito perigosas.
É por isso que pode bem mais grave a negligência no
saneamento público do que o que ocorreu em Borba. Uma epidemia pode fazer mais
vítimas do que as quatro que infelizmente se registaram em Borba. Não podemos
voltar aos tempos em que temos medo de entrar num restaurante não vá o telhado cair-nos
em cima ou de não lavar as mãos devido ao risco de morrer devido a uma doença
que se julgava eliminada.