“Esses senhores do FAM”, para usar uma fórmula de etiqueta muito querida à presidente da câmara, nunca deveriam ter sido nomeados para membros da Direção Executiva do FAM. Num órgão que defende os interesses financeiros do Estado e vigia o comportamento financeiro de autarcas eleitos por partidos devia estar gente isenta e sobre quem não possa recair qualquer suspeita de falta de isenção. Acontece que dois dos três membros da comissão executiva do FAM são provenientes de gabinetes de governantes do PSD, do governo de Passos Coelho.
Miguel Almeida, o presidente da Comissão Executiva veio do Gabinete do Secretário de Estado da Administração Local (2013) e Carla Maria Lamego Correia, vogal da Direção Executiva era Adjunta do Secretário de Estado Adjunto e do Orçamento (2010 -2011; 2013 -2014. Estes dois membros da direção executiva do FAM, precisamente os que assinaram o último relatório relativo a VRSA são aquilo a que na gíria política se costuma designar por boys, neste caso até singraram na sequência da sua passagem por gabinetes onde as nomeações costuma pressupor a confiança pessoal e política dos membros do governo.
Se os responsáveis pelo FAM passaram por gabinetes governamentais do PSD e avaliam agora a mais desastrada autarquia do PSD, que por sua vez gasta muitas centenas de milhares de euros em adjudicações diretas ao escritório de advogados do mais importante vice-presidente do mesmo PSD, é mais do que legítimo recear pela isenção do FAM. É óbvio que para cargos como os da Direção Executiva do FAM deviam ter sido escolhidas personalidades em cuja escolha não pudesse existir a suspeita de ligações políticas.
Apesar de gerir uma autarquia falida e que caminha a passos largos para a insolvência, se é que ainda não está nessa situação, a liderança autárquica comportou-se em 2017, ano de eleições, de forma irresponsável, chegando ao ponto de baixar o IMI por motivos eleitoralistas. Tudo isto e muito mais tem sucedido sob as barbas de um FAM que permitiu que a autarquia se afundasse sob a sua vigilância, para agora falar em circunstâncias inesperadas para sugerir uma revisão do PAM. Em VRSA tem valido de tudo um pouco apesar da vigilância supostamente apertada do FAM.
Se perdoaram a irresponsabilidade financeira e eleitoralista de 2017, em relação a 2018 elaboram um relatório muito questionável a vários títulos. É um relatório com critérios exclusivos para VRSA, onde se ignora a situação real da autarquia e se aceita o desastre como meras despesas inesperadas que estranhamente todos desconheciam. Para o ano dirão que a dívida das águas ou o buraco da SGU eram inesperados e voltarão a perdoar e provavelmente a propor nova revisão do PAM.
Se “esses senhores do FAM” nunca deviam ter sido nomeados, depois do último relatório obviamente demitia-os. Mas não temos pressa e desejamos que “esses senhores do FAM” por lá continuem até que se tornem evidentes as consequências do seu trabalho em Vila Real de Santo António. Para que nessa hora as assumam. VRSA corre um sé´rio risco de vir a ser um case study no mundo autárquico português e se tal vier a suceder todos os envolvidos terão que dar as suas explicações nos fóruns adequados.