SGU: NEM O PAI MORRE, NEM A GENTE ALMOÇA



Há muito que se estava a preparar as exéquias da SGU, mas em sucessivas declarações a autarca acusava a oposição de ignorância, demonstrando o preciosismo técnico de quem sabe muito destas coisas, esclarecia que não se tratava de uma liquidação, encerramento ou dissolução, dizia ela que era uma internalização, isto é, a SGU morria suavemente mas renascia dentro da autarquia. Era um milagre, tapava-se o buraco e a despesa da SGU transferindo tudo para a CM. Brilhante.

Só que neste caso poder-se-ia usar uma expressão muito comum no Alentejo, que “nem o pai morre, nem a gente almoça”. A SGU já poderia ter sido dissolvida por iniciativa da autarca, mas havia um problema, se existissem vacas encoiradas, como, por exemplo, dívidas e outras operações ocultas, com a dissolução tudo o que viesse a aparecer posteriormente cheiraria a fraude.

A alternativa seria esperar que a SGU morresse de uma causa natural, esperando pelas contas de 2019 seria certo que apresentaria três anos consecutivos de prejuízos e seria a lei a determinar a sua morte num prazo legal de seis meses. Mas subsistiria o problema de saber qual a forma de levar as vacas encoiradas a pastar nas contas legais? Ainda por cima este processo levaria demasiado tempo e as dívidas da SGU não poderiam ser embarcadas no próximo comboio do FAM, que desta vez em vez de levar à estação do pote, se fica pela do reescalonamento da dívida.

Havia que arranjar uma forma de engenhosa para matar dois coelhos de uma cajadada, era preciso que as contas da SGU nada escondessem e que se provasse que em 2016 em vez dos lucros anunciados com pompa e circunstância, se corrijam as contas para que passe a dar prejuízo. Não sabemos qual a mente brilhante que engendrou uma reescrita da contabilidade de três anos de uma empresa sem que tenha havido qualquer auditoria ou prova de irregularidade. É caso para dizer que não acreditamos em bruxas “pero que las hay, las hay” e é mais do que certo que graças ao brilhantismo da nossa autarca se tenha descoberto mais alguma maldade da responsabilidade com que ela nem sonhava e nem tem nada que ver, enfim, mais um lote da tal herança envenenada deixada pelo cantor das botinhas brancas, de que se queixava o volumoso mano.

A manobra é inteligente e tal como o último relatório do FAM até cheira a tinto de Borba, mas temos de reconhecer a esperteza, ainda que seja gato escondido com rabo de fora, ao descobrirem mais umas centenas de milhares de euros ou de milhões a acrescentar à tal dívida que o FAM disse ter diminuído de forma substancial, põem em causa muito mais e correm um sério risco de abrir a janela para suspeitas em relação à forma como era e é gerida a SGU. Suspeitas que podem ter diversas formas e em particular a suspeita de fraude fiscal, se as tais alterações tiverem consequências no domínio da fiscalidade.

Fica aqui uma aposta: vão descobrir irregularidades contabilísticas, sem que para isso seja necessário contratar um auditor e matam a SGU à pressa.

Mas há aqui uma questão que se coloca: não foi a autarca que tudo fez para que fosse chumbada a proposta da oposição para que se realizasse uma auditoria forense a todas as contas da autarquia? Pois é, pela leitura do relatório do FAM percebe-se claramente que as contas da CM não era aquelas que a autarca apresentou e agora começa a ser óbvio que na SGU também há muito por saber.

Enfim, esta nossa autarca parece ser a comandante de uma Nau Catrineta, que tem muito para contar. Em terra de poetas vale a pena ler alguns versos do “Lá vem a Nau Catrineta”:

"Já não tinham que comer,
nem tão pouco que manjar.
Deitaram sola de molho,
para o outro dia jantar.
Mas a sola era tão rija,
que a não puderam tragar." 

"Deitaram sortes ao fundo,
qual se havia de matar.
Logo a sorte foi cair
no capitão general" 

Esta é a situação real da autarquia, já não há nada para manjar e um dia destes é a autarca a pagar por isso. Não admira que queira reabrir as conta de 2016, um ano em que era “só” vice-presidente da autarquia, braço direito do Luís Gomes e a sua sucessora indicada.

PS: Pedimos desculpa aos defensores do comércio local se destas palavras resulta alguma má imagem para o concelho, que afugente compradores ou investidores. Pedimos também desculpa por estarmos a ousar opinar sobre algo que há quem defenda que seja exclusivo dos partidos e de profissionais, uma versão moderna de uma expressão famosa que dizia que "a política é para os político".