Sem qualquer comunicação pública, sem qualquer explicação e
sem qualquer informação ao executivo municipal ou à sua Assembleia Municipal, a
presidente da autarquia decidiu por sua livre iniciativa vender todos os
bairros camarários que ao longo dos anos foram construídos pela autarquia. Não
está em causa qualquer opção na gestão dos problemas sociais, não saiu nenhum jackpot
do Euromilhões nas famílias de poucos recursos que vivem nesses bairros, nem
sequer recebeu qualquer imposição por parte de outras entidades.
Muito simplesmente, quem gastou mais de 400.000€ em menos de
três meses com o Dr. Morais Sarmento ficou com a “corda ao pescoço” depois do incumprimento
do PAM, ou inventa receitas ou o FAM terá que fazer o que parece ter perdoado
(sabe Deus com que base legal), isto é, pedir a dissolução dos órgãos autárquicos
e comunicar os abusos a quem de direito, com todas as consequências legais que
daí poderão advir.
Só que esta venda não suscita apenas questões de ordem jurídica,
diz muito sobre uma equipa que durante mais de dez anos usou o argumento dos
apoios sociais e agora tenta ir ao bolso dos pobres para que a carreira política
dos Cabritas não termine de forma abrupta e desastrosa. Quando, há alguns meses
atrás, a autarquia não exerceu o direito de preferência em relação a um fogo de
um bairro social, dando a ganhar dezenas de milhares de euros a terceiros (recorde-se
que no negócio estava um banco gerido por alguém do mundo da política local),
ninguém poderia adivinhar que a situação financeira já era tão desesperada.
Mas há algo de muito cínico quando uma equipa autárquica
tenta preservar o bem-estar que rodeia o exercício de cargos públicos, quando
comparado com o proporcionado por carreiras profissionais menos ricas, tentando
ir ao bolso daqueles que supostamente são os menos abonados do concelho. Há qualquer
coisa de errado quando a autarquia tenta salvar a sua presidente tentando
vender a casa a bom preço precisamente aos que receberam a casa por não terem
meios para comparar ou arrendar uma em condições normais de mercado.
Quem e quando se avaliou as casas, que garantias são dadas
aos que as adquirirem em relação a obras de que devam ser feitas, o que
sucederá se vier a concluir-se da não conformidade desta venda com a lei, como
vai funcionar o condomínio nos prédios em que só parte dos inquilinos optarem
pela compra? São muitas as dúvidas, mas como a presidente costuma usar o site
da autarquia, o seu Facebook e o Jornal do Algarve para explicar as suas
decisões orientadas pelos seus bons dotes de gestão, estamos certos de que
muito em breve tudo será explicado.