A última Assembleia Municipal Extraordinária de Vila Real de Santo António que visava o debate construtivo da verdadeira situação financeira do Município, na tentativa de ser possível equacionar e propor soluções para a grave crise que já não é mais possível esconder, foi fértil em manobras de dissimulação e fuga para a frente por parte da maioria que suporta o executivo municipal.
Assistiu-se a um espectáculo lamentável orquestrado por quem devia ser, pelas responsabilidades políticas pessoais passadas e presentes, os primeiros a viabilizar esse debate. Naturalmente falamos do senhor presidente da Assembleia Municipal, anterior vice-presidente da câmara ao longo de dois mandatos, assim como da actual presidente da câmara municipal, vice-presidente no último mandato autárquico.
Ao impor regras que impediam o contraditório, cada uma das forças políticas com assento na Assembleia limitaram-se a duas curtas intervenções, sem direito de resposta. No final, a senhora presidente disse o que lhe apeteceu dizer, sem responder às muitas questões que a oposição lhe colocou.
Entretanto, os deputados e os munícipes presentes que tinham a natural expectativa de ouvir as explicações relativas ao porquê da falência municipal, surpreendentemente, na versão do actual executivo, ficaram a saber que a responsabilidade da actual situação é do presidente que perdeu as eleições há treze anos.
Objectivamente, interpretando as paupérrimas explicações que foram dadas aos munícipes e aos deputados da oposição pela responsável autárquica na Assembleia Municipal, Luís Gomes e as equipas que o acompanharam ao longo de três mandatos, assim como a actual presidente e a sua equipa, não têm quaisquer responsabilidades no afundamento financeiro do município.
Entrámos numa nova dimensão ou, se quisermos, naquele jogo que é praticado nos aquecimentos dos treinos desportivos em que se passa a bola aos companheiros, de forma a impedir que quem está ao meio do grupo lhe toque ou que a intercepte, não sendo possível que quem recebe a bola a devolva à procedência.
Deste modo, se desde a fundação da cidade todos os responsáveis camarários, por absurdo, estivessem vivos, ao serem acusados da actual situação camarária pelos seus sucessores, replicariam dizendo que que não era nada com eles e sim com quem foi responsável antes deles.
Com todos a sacudir a água do capote, rapidamente chegaríamos ao tempo da fundação da cidade e, uma vez que foi o Marquês de Pombal que mandou construir a cidade, não podendo ele passar a bola a outro, descobriríamos que é ele o responsável pelos actuais calotes do município.