ISTO NÃO VAI LÁ COM MILAGRES

Estilos de liderança populistas alicerçados em recursos adquiridos através de criação de dívidas astronómicas e insustentáveis podem no imediato projectar esses líderes para o ilusório estatuto de quase profetas ou de seres dotados de capacidades sobrenaturais por parecer que tudo aquilo em que tocam é transformado em ouro, tal como com o rei Midas.

Na prática, hoje, infelizmente, sabemos que a prazo não é assim, uma vez que um dia as consequências dessa política desastrosa e irreflectida fazem-se sentir dolorosamente.

Esses mestres ilusionistas constroem e promovem a sua imagem pessoal esgotando recursos que no futuro terão de ser pagos por todos os outros da mais variada forma: aumento de taxas e de impostos, redução drástica da qualidade dos serviços prestados ou, por vezes a sua eliminação, supressão de benefícios, cortes salariais, despedimentos.

Podemos frontalmente dizer que o resultado de políticas populistas que visam projectar e consolidar líderes que provam não possuir perfil para servir a causa e o bem comum, afinal, é dívida, engano e pobreza.

Todavia, quando isso acontece, desses caudilhos irresponsáveis sobressai uma outra característica, a sua capacidade manipuladora que aos olhos de alguns consegue transformá-los em vítimas: eles eram bem-intencionados, queriam ajudar os necessitados, queriam o bem comum mas, a conjuntura, o azar, a oposição, trocaram-lhes a volta.

Depois, constatada a impreparação para a função uma vez que foram incapazes de gerir com saber e prudência os recursos disponíveis, como única estratégia para a resolução dos problemas que eles próprios criaram, renovam as promessas de um mundo maravilhoso que há-de vir e falam em ter fé que tudo se há-de arranjar.

Entretanto, como corolário desta miserável situação em que nos encontramos, para piorar ainda mais o que já estava mal, ao não ser respeitado o receituário do FAM, o último período eleitoral parece ter proporcionado o caldo adequado para castigar ainda mais a população deste concelho, ao ser prolongada a aplicação do PAM a um interminável período de trinta anos.

Convenhamos que é mau de mais! Não merecíamos este castigo!

Alguém falou na necessidade de um milagre, porém, atendendo ao significado da palavra, sendo o milagre algo de sobrenatural, portanto, fenómeno oposto às leis da natureza, não é suposto ele acontecer aqui enquanto instrumento disponibilizado por alguma entidade superior a alguém escolhido para num ápice resolver os problemas do nosso concelho.

A gravíssima situação financeira do município de Vila Real de Santo António resolver-se-á com pessoas competentes, conhecimentos e experiência para o fazer, com pessoas dotadas de bom senso, com pessoas prudentes, com pessoas responsáveis e, acima de tudo, que ponham os interesses colectivos acima de vaidades e agendas pessoais.

Tudo aquilo que até agora não tem havido, razão pela qual se vivem os tempos conturbados que nos afligem e tanto lamentamos!