NÃO DESPEDIA, DIZIA ELA



Sempre que lhe dá jeito a nossa autarca faz alarde das suas preocupações sociais, gaba-se mesmo de esse ser o pelouro dela, quem ouve a política que dirige a autarquia para cuja ruína deu uma preciosa ajuda até parece estar a ouvir uma Madre Teresa do Guadiana. O problema é que este verniz da bondade desaparece ao mais pequeno arranhão.

Sempre que questionada sobre se iria haver despedimentos em consequência da concessão da exploração da distribuição de águas e do saneamento básico (não dizemos privatização porque a nossa autarca vem logo sugerir que a oposição é imbecil e não sabe a diferença), a autarca sempre garantiu que tal não sucederia. Agora percebemos porquês, a autarca tem um conceito original de despedimento.

Ao ficar com o negócio das águas empresa do Ângelo Correia, padrinho do então primeiro-ministro que passava férias aqui no concelho, tinha duas alternativas, ou integrava os funcionários da SGU ou teria de fazer novas contratações e os novos quadros, muitos deles deslocados começariam as rotinas técnicas a partir do zero. Esta solução seria demasiado dispendiosa e para a evitar tiveram de oferecer condições convidativas.

É natural que alguns trabalhadores da SGU não tenham alinhado no canto do cisne, sentindo-se mais seguros na SGU do que numa empresa que os poderia descartar pouco tempo depois. Como era de esperar, a SGU invocou a “extinção do lugar”, um argumento previsto na lei para o despedimento. A nossa autarca, que é tão rigorosa nos conceitos económicos e não se cansa de dar lições à oposição, fez agora uma descoberta original.

“A SGU alega a extinção do posto de trabalho, mas a atual presidente da Câmara, na altura vice-presidente, chegou a dizer-nos que ninguém seria despedido. Nem sequer os que não aceitassem ir para a concessionária. Afinal, não é essa a realidade e, a partir do dia 28 de fevereiro, estes trabalhadores estão desempregados com a indemnização correspondente ao tempo de serviço” [Jornal do Algarve]

Pois, mas como noutras ocasiões a nossa autarca vai assegurar que não mentiu, ninguém foi despedido, o local de trabalho é que se extinguiu. Tal como concessão não é privatização, agora vai assegurar que extinção do lugar não é despedimento, mesmo que se saiba que todos os despedimentos com justa causa têm justificação e uma das que a lei prevê é a extinção do lugar, que neste caso foi uma decisão política da autarca.

Mas esta não era a senhora que começou o mandato dizendo que a sua prioridade era o emprego e que não se cansa de alardear as suas grandes preocupações sociais?