Será normal um autarca ter no seu gabinete de apoio mais de trinta funcionários? Não, não é normal, é um absurdo que um autarca de um dos mais pequenos concelhos do país ter um gabinete maior que os gabinetes do ministro das Finanças e dos seus secretários de Estado, todos juntos. Ainda é menos normal que funcionários públicos sejam integrados em estruturas que obriga a relações de confiança política, como são os gabinetes. Um pequeno autarca não é propriamente o imperador de Roma, que pode usar os recursos públicos a seu bel prazer.
É evidente que não é ilegal, um autarca pode fazer mais ou menos tudo o que quer, desde que que não cometa nenhum crime ou irregularidade ou, no caso de a ter cometido, nada transpirar e as autoridades não tiverem conhecimento. Se as autoridades estiverem dormentes pode mesmo fazer o que lhe der na gana.
Mas o que não falta são anormalidades na gestão das autarquias portuguesas, não admirando que os funcionários da nossa autarquia tenham deixado de ser servidores do município para serem tropa de choque de autarcas e ex-autarcas, uma espécie de soldados de um coronel ao estilo das telenovelas brasileiras. O absurdo chega agora ao ponto de funcionários pagos pelos contribuintes se dividirem entre apoiantes da autarca no poder e apoiantes do anterior autarca que terão sido desprezados pela sucessora. Ainda não há batalhas campais, por enquanto só há jantares de apoio e desagravo.
Uns ficaram no gabinete e são da confiança dos que estão, os outros deixaram de saber dos segredos de alcova, tendo sido excluídos do condomínio de luxo que é o gabinete da presidência e são apoiantes do ex-autarca, promovendo almoços organizados pela esposa de um deputado municipal e onde aparece o ilustre deputado Carlos Barros e o Pedro Pires, tudo bem regado no luxuoso Sem Espinhas.
Nada disto é normal e mostra como o Estado se transforma numa espécie de tasca da coxa, onde tudo vale, como o assédio laboral a uma funcionária que ousou passear em público com o sogro, de nada lhe servinmdo as velhas amizades íntimas. Chega ao cúmulo de parecer existirem duas autarquias, com dois esquemas de entrada de documentos, algo que não existe em nenhum organismo do Estado a não ser em serviços de informações ou de investigação. Os documentos comuns dão entrada num registo geral, aqueles que parecem mais sensíveis só podem ser vistos nos gabinete, onde funcionários públicos foram filtrados pela confiança política, como se os contribuintes lhe pagassem para estarem ao serviço de políticos.
Não, não é normal que numa autarquia existam fações de funcionários organizadas por quadros e deputados que se organizam em torno de autarcas ou ex-autarcas, como se uma câmara municipal fosse a tasca da coxa.