É frequente ouvirmos queixa-as de que a justiça não faz nada
apesar de situações supostamente evidentes ou de inúmeras cartas anónimas com
supostas provas e denúncias. Da mesma forma há quem se queixe do Tribunal de
Contas ou de outras instituições por nada fazerem apesar das situações
aparentemente evidentes.
Infelizmente muitas das queixas anónimas ou não que são
enviadas, denunciando situações irregulares acabam arquivadas, acabando por
trazerem mais prejuízos à justiça do que resultados. Para que a justiça
investigue é necessário que exista indícios de um crime e para que o seu autor
seja levado à justiça são necessárias provas consistentes.
Uma queixa pode conduzir à abertura de um inquérito,
desencadeando um processo de investigação. Mas se não existirem indícios
consistentes será muito difícil obter provas consistentes que possam fundamentar
uma acusação sustentável num julgamento ou, antes disso, num debate
instrutório. Produzir provas não é um processo fácil, exige cuidados especiais e
para que sejam usados alguns métodos como escutas ou buscas é preciso
justificar a sua necessidade perante um juiz de instrução.
Mesmo tendo-se a certeza de que foi cometido um crime e até
quando se está na posse de supostas provas estas poderão por um qualquer motivo
terem sido inquinadas e deixarem de ser aceitáveis. Isto é, podemos ter a
certeza de que alguém matou outra pessoa e mesmo assim ser impossível
condená-la. E se num crime de homicídio tal dificuldade existem, estas são infinitamente
maiores nos crimes de colarinho branco.
Não admira que o cidadão tenha uma perceção de que a justiça
não faz nada ou que não prestou atenção às suas queixas. Na verdade muitas
destas queixas nem sequer são bem formuladas e acabam por empanturrar a
justiça, desviando os recursos que são escassos. É preciso queixas fundamentadas,
apresentar indícios fortes, dar a conhecer as provas de que se dispõe.
Queixas sucessivas e sem pernas por andar contra alguém que
supostamente cometeu crimes acabam por promover o criminoso a uma espécie de
inocente incompreendido e perseguido. Ajudar a combater o crime não é empurrar a
justiça para investigações, é recolher informação que fundamente indícios
fortes de que foi cometido um crime, não importando se é enviado por carta
pessoal ou por outro meio, incluindo os endereços de e-mail que a própria justiça
cria para que o cidadão possa comunicar dados à justiça sem ter de se
identificar.
Não faz sentido denunciar conjeturas ou opiniões convertidas
em crimes e muito menos fazer falsas denúncias pensando que assim se promovem investigações.