Primeiro foi o vereador da CDU, já o LdF tinha suscitado o
problema do edifício da Rua de Angola, na sequência de mensagens de moradores.
O vereador inteirou-se e suscitou o problema na Sessão de Câmara.
Condoída com o sofrimento alheio de pessoas vítimas de um
processo contra o qual nada podia fazer a autarca mandou a sua advogada avençada,
uma especialista em cobranças difíceis, para que ajudasse juridicamente os
moradores. Com tanta gente empenhada e condoída e, em cima disso, tanto apoio
jurídico de uma advogada tudo ficou descansado.
Entretanto chegam as cartas de despejo e fez-se silêncio,
todos tinham feito as suas declarações de voto e estavam tranquilos com a
consciência, até a autarca que mandou a sua advogada ajudar as pessoas.
Mas eis que alguém se lembrou de dar corda a um candidato
nomeado há quatro meses e o homem fez a sua entrada triunfante prometendo
muitos e bons empregos. Feito o milagre do emprego, voltaram a dar-lhe corda e duas
semanas depois de terem sido recebidas as cartas de despejo eis que aparece
mais um causídico, por coincidência um ilustre vereador municipal e putativo
candidato à presidência da Assembleia Municipal.
Estava visto que a esquecida Santinha da Ladeira ainda fazia
um dos seus milagres, foi tiro e queda, o douto causídico descobriu ali uma
brilhante solução, como fazem todos os advogados das melhores escolas jurídicas
cá da praça não tardou a encontrar um qualquer motivo para invocar uma nulidade
processual. Era fácil, anulava-se a venda do edifício e tudo voltava à forma
anterior.
Só é pena que não se tenha oferecido para trabalhar pro bono
e logo ali assumir o patrocínio da causa em nome de todos os moradores. Não,
era mais comodo e proveitoso que a sua brilhante solução fosse apresentada em Sessão
de Câmara e de seguida o 'Senhor Chefe de Gabinete' faria espalhar a boa-nova pelas redes
sociais, para que a cidade soubesse da grandeza daqueles a que os amigos já
tratam em privado por “Senhor Presidente”.. Era um xeque-mate e os votos seriam
para o grandioso candidato que de uma penada parece o novo Zorro a ajudar os
desprotegidos.
Espertalhona, a autarca aceitou de bom grado, logo de
seguida o povo da terra foi devidamente informado por mais um comunicado, desta
vez um pouco menos hilariante do que a da aula de emprego promovida pelos
Vasques. Todos ganharam, o vereador que foi o primeiro e durante muito tempo o
único a preocupar-se, a autarca que ajudou com a advogada e mostrou-se condoída
e até a implementar a brilhante solução proposta pelo ilustre causídico. E, a
cereja, que estava em cima do bolo foi para o candidato que sempre que lhe dão
corda é uma verdadeira máquina a resolver os problemas.
Só que parece que não leram bem os papelinhos, a verdade é
que estão todos muito preocupados com os votos e todos arranjaram uma forma de
dizerem aos vila-realenses que deram o seu melhor. E a verdade é que depois de
tanta bondade e empenho as cartas de despejo chegaram e o prazo está a contar. Resta-nos
desafiar a presidente, o vereador e o deputado municipal a estarem no prédio na
hora de carregar os tarecos. Já agora, talvez o 'Senhor Chefe de Gabinete' se lembre
de dar corda ao seu candidato, porque tem bom corpo para carregar umas
mobílias.
Mas enquanto as pessoas vão acreditando neles é bom que
leiam tudo, que consultem o processo. Leiam, antes de mais algo que está online
e por isso não se podem queixar de que a São lhes escondeu informação, leiam a carta
que a São mandou para o FAM e onde escreve isto:
«l) Medida com desvios face ao previsto. Por não ter
ocorrido renegociação e rescisões de contratos de arrendamento e aluguer, tal
como referido nos relatórios anteriores. O essencial desta despesa concentra-se
em 3 entidades: Instituto de Reabilitação Urbana, Fundo de Investimento
Imobiliário, SGU – VRSA, EM, SA, sendo que o predominante, quase 700 m € ano,
se concentram no último correspondendo aos valores faturados pela SGU pelas
rendas do parque de campismo e paços do concelho. O município já efetuou a revisão
do contrato de arrendamento estabelecido com o Fundo de Investimento
Imobiliário para o arrendamento habitacional cidades de Portugal deixando de
ser intermediário neste processo, o que permitirá, em 2019, uma redução desta
despesa superior a 120 mil €. Mais de 80% do valor inscrito nesta rubrica
corresponde às rendas do edifício da CM e do parque de campismo que são pagos à
SGU. Esta rubrica será anulada após a concretização do processo de liquidação e
extinção da empresa municipal, cujo momento de concretização depende de
condicionantes legais relativas à segurança e estabilidade de regresso das
competências da AM o município. s) (Alinea q))»
Isto é, a bondosa São que mandou uma advogada falar com os
moradores e se mostrou tão disponível há muito que sacrificou os moradores da
Rua de Angola para poupar 120.000 € e deu conta desse seu gesto ao FAM.
Compreende-se, em risco de perder o mandato e de ser condenada a pagar uma
multa de muitas dezenas de milhares de euros, não hesitou e livrar-se do edifício,
tendo tido o cuidado de deixar de fora deste golpe as instalações onde a
autarquia tem os arquivos e que ficam no rés-do-chão.
Afinal não parece ter sido apenas um negócio de um fundo
abutre, alguém poupou 120.000€. Enfim, não basta ter os candidatos embrulhados
em bolas de naftalina para lhes dar corda quando se pensa que dá jeito aproveitar-se
dos problemas alheios. Infelizmente não é fácil dar corda à competência, à
capacidade de análise, à dedicação e à persistência. Ainda por cima, é óbvio
que o 'Senhor Chefe de Gabinete' é pouca coisa e estão mesmo a precisar de um
coordenador externo.
Desejo a todos um Feliz Natal e que na hora de abrirem as
prendas não se esqueçam de meter na árvore uma prenda simbólica, a prenda que
todos deram aos residentes da Rua de Angola.
Enfim, quando se tem mais olhos de barriga acaba-se por fazer figura de lorpa. Um bom advogado em vez de gerar expetativas, confundindo a reunião em torno de um processo com um comício, não pedindo a consulta de todo o processo na CM e pensando mais num comunicado do que na solução do problema, lembra-nos a recordar um dito popular, que as cadelas apressadas parem cães tortos.