Os cuícos de Monte Gordo são um grupo social que pelas suas características
culturais, sociais e económicas podem ser considerados um pequeno grupo étnico
que ainda hoje representa uma comunidade coesa que estava ligada quase
exclusivamente à pesca e à indústria conserveira e que depois do fim da
indústria conserveira tem fortes ligações ao turismo local.
Foi uma comunidade marginalizada ao longo de muitas décadas
e que por isso foi condenada durante muito tempo à pobreza. Só conseguiu romper
de forma parcial o circulo de pobreza em que foi metida, graças aos seus
próprios esforços e ao emprenho de alguns autarcas do pós 25 de Abril.
Ainda assim, não serão necessárias estatísticas para dizer
que ainda hoje esta comunidade está marginalizada e, em consequência disso,
muitas das suas famílias apresentam níveis de rendimentos abaixo da média do
concelho. Ao contrário dos argumentos xenófobos que muitas vezes são usados em
relação a alguns grupos étnicos, culturais ou sociais, os cuícos são gente de
trabalho, que se esforça, são gente honesta e nesta comunidade não se registam
quaisquer crimes.
Graças a alguns autarcas a vida nesta comunidade melhorou,
iniciativas como o projeto SAAL, a construção de habitação e as melhorias
urbanas, a melhoria dos apoios dos pescadores merecem elogio. Infelizmente, o investimento
público foi reduzido se considerarmos que passaram quase 50 anos desde o 25 de
Abril.
É estranho que com fundos europeus para tudo e mais alguma
coisa nunca se viu o envolvimento destes fundos na promoção desta comunidade, o
investimento em educação e cultura foi nulo, assim como nunca vimos qualquer
apoio ao empreendedorismo. Os pescadores foram votados ao abandono e no caso
dos mariscadores a marginalização é total.
A relação do atual presidente da CM de VRSA é um bom exemplo
da forma oportunista com alguns políticos menos escrupulosos abordam os
problemas do desenvolvimento das comunidades. Durante a campanha eleitoral
socorreu-se de dois ou três montenegrinos para se aproximar dos pescadores e
mariscadores.
Antes das eleições fartou-se de tirar fotografias em
sardinhadas e deu muitos passeios pela praia com o cunhado a ser muito generoso
a oferecer minis. Mas depois de perder as eleições na Junta de Freguesia de
Monte Gordo parece ter querido vingar-se dos eleitores e deixou de aparecer.
Ainda se lembrou da aldeia dos pombos mas nem esses tiveram sorte.
Já se esqueceu das suas promessas eleitorais, como o famoso
pavilhão multiusos, agora parece já estar em campanha mas em vez de mostrar
trabalho optou pelo caminho mais curto e, porventura, mais sujo, atrair para a
sua equipa o atual presidente da junta de freguesia, dessa forma julga ganhar votos
sem nada fazer.
É esta abordagem oportunista da relação com os cuícos que
não sendo nova está por detrás do abandono da população e da perpetuação dos
problemas. Já antes do de Araújo a São Cabrita fez o mesmo, ainda que a
ex-autarca possa dizer que fez algumas coisas pelos cuícos e por Monte Gordo.
É mais fácil comprar votos fazendo pequenos favores a troco
desses votos, é mais cómodo comprar bandeados para se conseguir votos, é mais
simples organizar sardinhadas para ganhar popularidade, do que trabalhar a
sério.
E trabalhar a sério é identificar os problemas, dialogar com
a comunidade e mobilizar os recursos locais, nacionais e, se disponíveis, os
fundos europeus, para repor justiça histórica e trazer a comunidade dos cuícos
para um patamar de desenvolvimento social ao nível do resto do concelho e do
país.
Se o nosso senhor presidente tem tantas influências porque
nada faz pelos cuícos e, em particular, pelos pescadores e mariscadores. Se
tinha tão fácil acesso aos dinheiros da bazuca e o seu candidato Karussa sabia
tanto destes fundos, porque é que Monte Gordo foi ignorada, havendo uma
comunidade de pescadores e mariscadores que se encaixava na perfeição nos
objetivos sociais e económicos do PRR.
É óbvio que para o nosso senhor presidente o PRR significou
apenas dar casa aos que votaram ou prometerem votar nele e não foram os
montegordinos que não lhe deram a vitória na junta de freguesia. A aposta
eleitoral do Araújo são os grupos étnicos que melhor reagem à sua estratégia de
compra de votos, ao ponto de haver gente a migrar para Vila Real de Santo António,
onde se pode recensear e trocar os seus votos pelos favores camarários.
Para o de Araújo não são os montegordinos, os cacelenses ou
os vila-realenses que contam, apenas quer votos e se esses votos forem
conseguidos facilmente entre nepaleses ou noutras comunidades étnicas, então é
com esses eleitores ou futuros eleitores que o nosso senhor presidente está ‘preocupado’.