Pode ser uma crítica ácida à forma como o património
cultural é valorizado e preservado, muitas vezes de forma oportunista ou
seletiva.
Mas a verdade é que
nesta terra o Património só é Património quando convém: Raramente vemos a
valorização do património como uma preocupação genuína com a preservação da
história e da cultura, vemos sim ações determinadas por interesses imediatos,
como a imagem política de políticos fracos ou então na bazófia do turismo e
desenvolvimento económico do concelho!
O tema levanta questões importantes sobre a relação entre o
património cultural e o poder. Pois muitas vezes, a preservação do património é
vista como um luxo, uma atividade que pode ser adiada ou negligenciada em
momentos de crise ou quando há outras prioridades mais urgentes. No entanto, o
património não é apenas um conjunto de edifícios históricos ou objetos
artísticos, mas também um testemunho da identidade de um povo, das suas
tradições e da sua história.
Ao reduzir o património a um mero instrumento de marketing
ou de propaganda, corremos o risco de perder a sua verdadeira dimensão e de
banalizar a sua importância. É fundamental que a valorização do património seja
um processo democrático e participativo, que envolva a comunidade local e que
se baseie em critérios objetivos e transparentes.
É uma barbaridade que em Vila Real de Santo António
continuem a existir situações onde não existe o mínimo de sensibilidade para
lidar com elementos arquitetónicos com valor histórico para a cidade e que
fizeram parte da vida de muitos vila realenses. Como é que continuamos a
assistir a perdas de informações e registos preciosos dos 250 anos da nossa
existência e até possíveis registos históricos anteriores à fundação da cidade?
Desnuda a hipocrisia que muitas vezes permeia as políticas
culturais da nossa terra. A valorização do património, em vez de ser um ato de
reconhecimento da nossa história e das nossas raízes, agora também se tornou um
instrumento de poder, utilizado para legitimar projetos de desenvolvimento que,
na maioria das vezes, priorizam os interesses eleitorais, pessoais e económicos
em detrimento da preservação do bem comum. E nem vale a pena entrarmos na
dicotomia entre desenvolvimento e preservação do passado porque isso é uma
armadilha que precisa ser superada, pois é possível conciliar ambos os
objetivos, desde que haja uma verdadeira vontade política e uma consciência da
importância do património para as futuras gerações.