Há a falsa ideia de que que se dedica à caridade ou a outras
atividades bondosas recebeu uma espécie de vacina de honestidade ou que nestas
atividades há margem para não cumprir todas as exigências legais, como se fosse
uma exceção ao princípio da legalidade a que todos estamos obrigados e onde
todos exigimos que sejam os governantes a dar o exemplo.
Porque será que o Ministério Público assumiu publicamente
que a vigilância sobre as operações de investimento em habitação seria uma prioridade?
A crer nalgumas almas bondosas isto será perda de tempo porque no investimento
para habitação, destinada aos mais carenciados ou à classe média que não
consegue arranjar casa, já que os políticos envolvidos nestas operações são tão
bondosos que não cometem irregularidades.
A verdade é que quando se misturam empresas de construção
civil. obras públicas, financiamentos europeus e políticos bondosos estão reunidas as
condições para ocorrerem aquele tipo de situações de que todos nos queixamos.
Pensar que a observação das leis deve ser ignorada quando
está em causa habitação social ou que pela sua natureza os políticos e
empresários se abstêm de ser corruptores e corrompidos não passa de uma
falácia. Basta ler os jornais.
É natural que o desespero leve muita gente carente de
habitação a não se importar com ilegalidades ou mesmo corrupção se daí resultar
uma casa fácil que muitos desejam. Infelizmente é assim e muitos políticos sem
escrúpulos por esse país fora, poderíamos dizer até por essa Europa e por esse
mundo for não sentem escrúpulos em usar os mais carenciados para conseguirem
votos e benesses, ao mesmo tempo que passam a imagem de políticos bondosos.
O fenómeno nem é exclusivo dos políticos, é mesmo típico dos
mafiosos. EM Nápoles ou na Sicília os mafiosos fazem muita caridade, organizam
muitas festas e ajudam muitos pobres, assim como também financiam as procissões
e mesmo algumas infraestruturas sociais. O mesmo sucede em Sinaloa, no México,
onde o traficantes contam com o apoio da população mais carente, porque lhes
dão emprego, casas e festas.
Infelizmente o negócio da pobreza nem sempre gera gente
muito bondosa, sejam políticos ou mafiosos.