O DESCUIDO




Na ocasião ninguém sabia que estava perante uma grande realização que iria lançar o Faustino, ex-construtor civil falido, e Luís Gomes, agora um cantor famoso no Sem Espinhas e arredores, no mundo do cinema. Soube-se agora que Luís Gomes já projetava o seu futuro a uma distância de dois anos, usando os dinheiros dos vila-realenses na promoção do culto da sua própria personalidade.

A pobre Ana Gomes, uma funcionária zelosa da autarquia, tão zelosa que já se tinha confrontado com um presidente da autarquia em plena reunião da Assembleia Municipal e que tem sido uma militante exemplar no apoio à São, cometeu um descuido. Enganou-se e mandou documentos com despesas que supostamente eram segredo de Estado, para o e-mail dos vereadores da oposição, que, como é sabido, dos assuntos da autarquia só estão autorizados a saber em que lugar se sentam.

Na ocasião ninguém deu muita atenção ao negócio e até serviu para que a funcionária tivesse o palco da Assembleia Municipal para atacar violentamente alguém que era candidato à presidência e não estava presente. Isto é, a Luís e a São pegaram no dinheiro que receberam do FAM para tapar os buracos e mandaram fazer uma curta metragem de elogio ao presidente e quem levava a porrada era um candidato que tornou público algo que por lei deveria ter sido do conhecimento de todos os portugueses, com a publicação na Base Gov.

Isto é aquilo a que se chama não ter o mais pequeno pingo de vergonha na cara, cometem-se abusos e ilegalidades, escondem-se despesas com recursos a truques, gasta-se indevidamente o dinheiro do Estado e sem respeitar quaisquer regras e depois a culpa é de quem divulga aquilo que deveria ser público. E como a vergonha é mesmo muito pouca ou nenhuma, manda-se a funcionária-militante atacar um opositor.

A verdade é que estamos perante irregularidades graves e só não avaliamos se estaremos ou não perante indícios de algo mais grave porque tal deve ser feito por quem de direito. Além disso, é óbvio que os documentos tornados públicos na época e que ontem reproduzimos são parciais e o filme custou certamente mais do que os 34.000€. Basta ver que um filme do género exige mais colaboradores, a começar pelo próprio realizador que não é referido na folha de pagamentos.

Se este assunto nunca foi investigado deveria ser, pelo menos pela IGF, que poderia muito bem ser convidada a fazê-lo pelo FAM, já que estávamos em ano eleitoral e como se constatou no relatório do FAM a autarquia não cumpriu o acordo. Não sabemos se é crime no sentido jurídico, mas é certamente um crime de gestão. Nem sequer entendemos como é que o FAM permite tanta bandalhice.

OI Largo da Forca tenciona promover uma exibição do Filme “ As horas de luz” aqui no Largo da Forca e vamos convidar por e-mail a presidente da CM, o Presidente do Tribunal de Contas, a Comissão Executiva do FAM, o Inspetor-Geral de Finanças, o ministro da Administração Interna (tutela do FAM) e, a título particular, a ministra do Mar, esposa do ministro que tutela do FAM e grande admiradora do ex-autarca e agora cantor e artista de cinema.