O NÓ CEGO DA SÃO



Teria sido mais inteligente por parte da atual autarca promover uma rotura com o seu antecessor e criador, algo muito comum na vida política. Assumiria o desastre da gestão com a qual colaborou na condição de vereadora durante dois mandatos e de vice-presidente no terceiro mandato. Far-se-ia de inimputável em relação ao passado e atiraria o odioso das consequências da política autárquica em que colaborou para o Luís Gomes.

Mas ou lhe faltou visão e esperava ter um mandato tranquilo apesar da situação calamitosa das contas do município ou os laços com o antecessor eram demasiado pesados para ter assumido a rotura e enfrentado as consequências. Os sinais de mal-estar apenas surgiram quase um ano depois das eleições, em Setembro de 2018, quando o Fundo de Apoio Municipal tornou público o relatório relativo ao 4.º trimestre de 2017. Foi então que se falou em “herança envenenada”. Entretanto a autarca ainda ia colocando likes na página do Luís Gomes, manifestando-o orgulho pela sua obra, como ainda recentemente sucedeu com a inauguração do Hotel Guadiana, um buraco de milhões onde ainda ninguém sentiu o cheiro do veneno.

Se tivesse tido a coragem de assumir a rotura em finais de 2017, com o argumento de que soube da situação real da autarquia, teria criado um problema interno ao PSD, mas forçaria o PSD local, distrital e nacional a uma posição, num momento em que o Luís Gomes teria ficado numa posição muito frágil. Faltou-lhe a coragem ou conveniência e agora á tarde demais para tomar uma atitude e cedo demais para lançar uma candidatura, isto é, está metida num nó cego, está a meio do pântano e não sabe se deve ir em frente ou voltar para trás.

Lançar agora uma candidatura só faria sentido se desencadeasse a queda do executivo pedindo a demissão, mas para isso teria de contar com o apoio de um PSD que ao nível local ainda é uma espécie de banda do cantor pimba. Anunciar agora a sua candidatura para as próximas legislativas implicaria ter o apoio da estrutura local e distrital do PSD, o que é pouco provável que venha a conseguir.

A autarca está condenada a digerir até ao fim a sua própria herança, de que agora se queixa de estar envenenada. À medida que passa o tempo a autarca não só é corresponsável pelo estado a que autarquia chegou, como já está no cargo há mais de um ano sem que haja registo de uma gestão competente, antes pelo contrário, a autarquia anda de asneira em asneira e o descontentamento é cada vez maior em todas as freguesias do concelho.