MENTIRAS E MILAGRES



Se toda a trapalhada promovida pela São Cabrita em Monte Gordo correu mal, a comunicação do início das obras correu ainda pior, a autarca teve de enfrentar dezenas de comentários de indignação no Facebook. Passada uma semana  ensaiou nova comunicação, depois de perceber que tinha falhado e que o truque de recorrer ao Jornal do Algarve não deu resultado.

Veio agora com mais um esclarecimento, mas quem torto nasce tarde ou nunca se endireita, o comunicado recorre à mentira descarada, uma prática que se está a tornar recorrente na autarquia, começando a ser difícil perceber quando estão a falar verdade ou a mentir. A manobra é manhosa, não só tenta disfarçar a derrota humilhante que sofreu nas europeus, como tenta atirar areia para os olhos com as obras na marginal de Monte Gordo.

Desta vez a autarca não correu riscos, colocou a “notícia” no site da autarquia, mas ignorou-a tanto no Facebook da autarquia. Como no da São. A explicação é simples, ao contrário do que sucede no Facebook, as notícias no site da autarquia não permite comentários. Desta forma mente-se sem correr o risco de contestação.

Depois de lermos a notícia até parece que todos temos de agradecer à São, afinal ela não vai tentar recuperar o que destruiu, não gastou 500 mil em obras ilegais em alvenaria, não empechou Monte Gordo durante dois anos. Não senhor estava tudo pensado, aqueles alicerces, as árvores secas, os quiosques de azulejos, a relva seca, foi tudo a pensar no milagre dos panitos aplicados ao jardim.

Afinal, a culpa parece ser da APA que emitiu pareceres vinculativos contraditórios!

Estava tudo pensado, a São queria requalificar o jardim e dar-nos dois jardins. Vejamos, gastou 500 mil para empechar Monte Gordo, andou meses a encanar a perna à rã sem nada fazer, enganou sucessivamente os vila-realenses com novas datas para fazer não se sabe o quê, escondeu as verdadeiras razões da paragem das obras. De repente e sob pressão das denúncias do largo da Forca até divulgou uns desenhos de uma requalificação.

Afinal a autarca informa que estamos perante a continuação da obra já realizada:

“Estes trabalhos complementam a intervenção já realizada no areal, nos últimos dois anos, a qual dotou a praia com um passadiço pedonal com mais de 2 quilómetros de extensão e permitiu a renovação de todos os restaurantes e apoios de praia.”

Mas vai mais longe e mente ao informar que 

“Porque só agora se está a concretizar a obra?
Para levar a cabo esta empreitada, foi necessário efetuar um concurso público, preparar os respetivos projetos e garantir o financiamento da obra, procedimentos que só agora foram concluídos.”

Isto é pura mentira, não houve qualquer concurso público que tenha atrasado o início das obras. A autarquia está a mentir, há poucos dias a autarca declarou em sessão de câmara que tinha acabado de assinar as cartas com as consultas a três empresas, um processo de adjudicação que é expedito.  E quanto ao financiamento também tornou público que ia utilizar a verba do Fundo do Jogo.

É preciso tanta lata para andar a mentir há meses, escondendo aquilo que é muito óbvio e cuja responsabilidade a autarca já assumiu em sessão de câmara declarando objetivamente “ a culpa é toda nossa”. 

Vamos todos esperar pelo final de setembro e depois compararemos o que a autarca destruiu com aquilo que ali vai deixar depois de ter gasto quase um milhão de euros e de ter prejudicado a atividade turística durante dois anos.

Veremos também se para além de mentira e incompetência não estaremos perante uma situação que poderá ser considerada como administração danosa. Para que afastemos esta hipótese desafiamos a autarca a tornar públicas todas a peças do processo, que não passam de documentos administrativos não sujeitos a qualquer confidencialidade  e que podem ser consultados por qualquer cidadão, nos termos da Lei n.º 26/2016, de 22 de Agosto, uma lei que a autarca tem impedido de vigorar em VRSA ignorando os pedidos que lhe têm sido dirigidos por vila-realenses.

Divulgue os pareceres da APA e os documentos relativos aos supostos concursos que refere na comunicação. Com base neles veremos se fala verdade ou se estamos perante uma tentativa de dizer que não houve administração danosa.

Aditamento:

As declarações da presidente da CM na reunião do executivo camarário realizada no passado dia 30 de Abril provam que a comunicação de ontem mente aos vila-realenses, isto é, estamos perante gente que não tem escrúpulos em enganar quem os elegeu.

Porque será que a autarca anda tão nervosa?

««Relativamente a esta questão dos jardins como ontem já foi falado .. eu vou responder por escrito mas a questão ontem foi falada, houve aqui um erro no procedimento, houve aqui um erro no caderno de encargos e, portanto, faltavam peças ainda no caderno de encargos, peças concursais e teve que se reformular o projeto, teve que ser reformulado também este caderno de encargos e ontem, sim, é que seguiu para convite a três. Tivemos de fazer duas empreitadas, este dinheiro é tudo com base no Fundo de Jogo, ou seja é utilizado o Fundo de Jogo à volta de 300.000€, a partir do Turismo de Portugal que nos é facultado e, portanto, este dinheiro vai ser todo empregue na requalificação dos jardins e na frente de Monte Gordo.
(…)
Perante o tempo que decorreu, isto é um convite a três demora menos tempo vai demorar muito menos do que se fosse um concurso público, portanto podíamos apontar para mais um verão sem obra e começar em outubro, para ir tudo de seguida. » [Podcast de 30-04-2019]