A HERANÇA

Não deixa de ser irónico de que uma equipa autárquica que tudo faz para se demarcar da equipa anterior que, em boa verdade, era quase a mesma equipa da mesma facção do mesmo partido, acabe por viver do que herdou do anterior executivo e dos seus grandiosos projectos megalómanos. E de uma autarquia falida e arruinada e sufocada por uma dívida colossal, dirigida pelo interlocutor do FAM e pelo camarada de Borba sobra dois projectos, dois pequenos hotéis, o Hotel Guadiana e a pousada do Grupo Pestana.

Não sabemos muito bem se é esta a “herança envenenada” que alguns rejeitam, mas se em relação ao Hotel Guadiana subsistem muitas interrogações, já em relação ao investimento do Grupo Pestana podemos dizer que se trata de um protejo muito interessante. É a primeira vez, depois de 13 anos de liderança da autarquia por esta gente que aparece um grupo empresarial digno de nome.

É uma empresa sólida, com capacidade financeira, que sabe o que faz no mercado turístico, nada semelhante ás empresas com sede na Isla Antilla ou noutras paragens e cujos bares são apoiados com investimentos de pelo menos um quarto de milhão. É por isso que é bom para Vila Real de Santo António que uma empresa credível aposte no concelho.

Outra questão será saber como é que a pousada vai conviver com o ruído dos espectáculos na Praça Marquês de pombal, com as dificuldades de estacionamento, com a distância de VRSA em relação aos grandes centros e aos aeroportos e com uma época baixa prolongada. Mas estando em causa uma empresa com a experiência do Grupo Pestana conforta-nos a ideia de que tudo estará pensado e que este projecto tem futuro.

É pena que a sua dimensão tenha um impacto reduzido no concelho, ainda que bem maior do que o do Hotel Guadiana que conta com menos de metade das camas previstas para esta pousada. É bom para VRSA, mas é um pequeno empreendimento que acaba por ser um dos poucos símbolos positivos da longa passagem do Eng. Luís Gomes à frente dos destinos da autarquia. 

Mas se aqui muito se critica o homem, também é justa esta referência. Esperemos que a Pousada tenha sucesso e que represente o início de um ciclo de turismo de qualidade, ainda que a esperança não seja muita pois uma andorinha não faz a primavera. Mas não vale a pena exagerar nos elogios, uma pequena pousada não é propriamente um grande feito e tanto quanto se sabe é obra do Grupo Pestana. Se isto fosse motivo para uma estátua do autarca haveriam mais estátuas no país do que os pinheiros do Pinhal de Leiria antes dos incêndios do ano passado.