UMA QUESTÃO DE ÉTICA




Quando alguém é eleito para um lugar de deputado, seja municipal ou na AR, ou designado para um exercício de um cargo público não pode apagar o seu passado, fazer desaparecer o seu património, laços empresariais ou familiares. É por isso que existem leis de incompatibilidade, leis que não só podem condicionar a capacidade de votar ou decidir, chegando mesmo a condicionar os cidadãos já depois de “libertados” dessas funções.

Neste capítulo o PCP tem sido o partido mais rigoroso e exigente neste capítulo, como o tema é recorrente não tem sido raro vermos os PCP defender limites ao exercício de cargos públicos e mesmo ao exercício de atividades privadas na sequência do exercício de cargos públicos. Poder-se-á até questionar algum fundamentalismo nessas exigências, já que levadas a alguns limites só os frades da Cartuxa poderiam ser deputados ou governantes.

Mas a questão das incompatibilidades não se pode limitar a considerações legais, há também uma dimensão ética e se nalgumas circunstâncias a lei nada diz, os valores éticos deveriam levar os titulares de cargos públicos a absterem-se em causa própria. Recentemente a oposição propôs a realização de uma auditoria externa na Assembleia Municipal e o seu presidente, atrapalhado, votou contra, mas omitiu na ata que usava o voto de qualidade.

Como estava em causa uma auditoria à sua própria gestão houve quem considerasse que o presidente da AM poderia estar impedido de participar numa votação onde o próprio votou a “dobrar”, ao usar o voto de qualidade e ao não fazer constar isso na ata questionava-se sobre a legalidade do procedimento. Nada mais legítimo, mas logo o deputado José Cruz veio indignar-se porque quem levantava a questão da incompatibilidade estaria a limitar os direitos cívicos do Presidente da AM, armado em grande defensor da liberdade questionava os valores democráticos do seu colega deputado.

Enfim, um momento triste e o deputado defensor do exercício de cargos públicos sem limites teve um grande apoio nas redes sociais, apoio liderado por um tal Cunha que, seguindo a lógica do deputado José Cruz, fez uma defesa dos valores de abril e lá foi apelidando de fascistas o deputado que questionou a questão das incompatibilidades. Enfim, acontecem fenómenos muito estranhos em VRSA, deve ser resultado do consumo de cigarros, cigarrinhos e beatas.