Deram uma chapelada ao concelho
A partir da mitologia clássica, alguns autores das tragédias gregas criavam personagens para os seus enredos que eram castigados pelos deuses como consequência da imprudência com que lidavam com as questões da vida.
Assim, ficavam sujeitos a Ate que personificava a ruína, o engano, o erro, a tolice e o entorpecimento da razão.
Ate, considerada a deusa da fatalidade, materializava o conceito grego de “Húbris” que poderá ter a tradução de "tudo o que passa da medida", como sejam a confiança desmedida, o orgulho excessivo, a presunção, a arrogância ou a insolência, que com muita frequência acabam por ser punidas.
Este conceito, o de “Hubris”, opõe-se ao de “Sofrósina”, que é composto pela virtude da prudência, do bom senso, do comedimento, do reconhecimento dos limites e da medida de todas as coisas.
O pilar sobre o qual assenta a moral dos nossos tempos diz-nos que “In medio est vistus”, o que significa que a virtude está no meio. Ele apoia-se no ideal de ponderação como garantia de decisões corretas. Os antigos gregos ensinavam que a prudência e a moderação eram elementos básicos essenciais para beneficiar de um saudável estado de espírito, tal como que o oposto dessa honradez moral eram o orgulho, a vaidade e o desejo de poder.
Nas antiquíssimas metáforas que nos falam de homens e de heróis castigados pelos deuses como consequência dos seus desmandos, os autores clássicos prudentemente advertiam: "Nada de excessos!".
A pesada realidade com que estamos a ser brindados pela actual gestão municipal, gestão de continuidade com responsabilidades acumuladas relativa a um longo consulado de treze nefastos anos, reflete uma situação em que pela manifesta negligência com que cuidaram daquilo que é de todos, usando a tão antiga e adequada metáfora, estão a ser punidos por Ate.
A promessa de um mundo maravilhosamente colorido que ludibriou os incautos, na verdade, transformou-se numa dura realidade: lixo que não é recolhido e que se acumula encostado aos contentores, jardins abandonados, sujidade nas ruas, serviços deficientes quanto a funcionamento e pagos a peso de ouro, dívida absurdamente alta, projectos lançados com pompa por concluir, ocultação e falta de transparência, arrogância.