Há poucos dias lemos um pequeno debate entre dois conterrâneos sobre as vantagens do comércio ou da indústria, o primeiro defendia a importância do comércio local na produção de riqueza, o outro contrapunha que só a indústria transformadora produz riqueza. É um debate interessante que existe desde os primórdios do pensamento económico, com o aparecimento da corrente fisiocrata, que defendia que a única riqueza produzida na terra era a resultante da agricultura.
Ainda recentemente Cavaco Silva introduziu no debate a necessidade de produzir bens transacionáveis, logo ele que tanto apostou nos serviços se lembrou que um país não poder viver vendendo apenas serviços a si próprio, é necessário exportar para acumular riqueza vinda do exterior. Esta imensa confusão de conceitos conduz a abordagens simples como a acima referida.
É possível voltar a sonhar com grandes indústrias transformadoras, à semelhança do que sucedeu no passado? A resposta é claramente negativa. As indústrias transformadoras tendem a localizar-se onde existem condições que lhes proporcionem vantagens comparativas, seja o fácil acesso à matéria-prima, a proximidade dos grandes mercados ou de meios de transportes, mão de obra especializada e barata. Sucede que nada disto existe no nosso concelho. Não vale a pena sonhar com pesca porque os recursos foram esgotados e muito menos com um grande porto porque não existem nem condições, nem quem esteja interessado nele.
A indústria conserveira existiu em Vila Real de Santo António enquanto existiram recursos e nas últimas décadas da sua existência não teve qualquer possibilidade de se reestruturar. A que sobreviveu deslocalizou-se para onde há matéria-prima, a que não se deslocalizou morreu e tirando os edifícios pouco ou nada ficou. As condições do acesso ao mar abrem a porta a outras atividades como a construção naval.
Independentemente da dimensão, seja continental, regional, nacional ou local, as economias desenvolvem-se em função dos mercados, do que estes procuram, do acesso que se tem a estes, dos recursos de que se dispõe para investir ou fazer apostas, do empreendedorismo dos seus cidadãos. Não faz sentido defender que uma pequena economia local deve apostar neste setor ou desprezar aquele, glorificar estas empresas e ignorar aquelas. O importante é tirar partido das oportunidades, dos recursos, da localização, da cultura e de tudo o que possa gerar riqueza que fique no concelho.
A indústria transformadora é a que mais depende de recursos, matérias-primas e mão-de-obra, que está mais condicionada pela necessidade de transportes e de um conjunto de infraestruturas que as tornem competitivas. Dificilmente VRSA conseguir ter indústrias transformadoras de grande dimensão e competitivas, mas tem certamente condições para promover a venda dos seus produtos. O que a torna longe dos centros nacionais, torna-a mais perto dos mercados externos. Além disso, há hoje muitas oportunidades de negócios que não passam nem pelas matérias-primas, nem pelos transportes ou pela disponibilidade de mão-de-obra.