O CAGA MILHÕES




Durante décadas a Feira da Praia obedeceu a um modelo de organização rigoroso, como nesse tempo ainda não tinham surgido empresários com estatuto VIP que obrigavam a feira a desviar-se das suas portas, cada feirante estava no mesmo local de ano para ano. Quando se saia da Rua Teófilo Braga e se virava à direita na Av da República surgiam as barracas d fruta, onde se podiam comprar as maçãs reluzentes que raramente se viam na praça das verduras.

Era um tempo em que ninguém poderia imaginar que um dia VRSA ajudaria a financiar a Cuba comunista e nem o melhor romancista escreveria que um dia um empedernido comunista da terra iria converter-se á direita e viajaria com um presidente charlatão A Havana para o ver receber uma homenagem doo regime. Nesse tempo era a filha do silva Pais, dirigente da PIDE/DGS a única portuguesa vip na ilha caribenha.

Do outro lado da avenida costumava estar a barraca do caga-milhões, nas imediações era costume aparecer a mesa da vermelhinha, do nada surgir uma mesa desmontável e logo ali eram montado o jogo onde os mais distraídos não resistiam á tentação de ganhar uns tostões. No meio do ruído, com o ar a cheirar a polvo assado e enquanto a mesa desdobrável da vermelhinha aparecia e desaparecia perante a proximidade de algum agente da PSP, fazia-se ouvir o caga milhões.

O esforço que obrigava a fazer impedia o caga milhões de apregoar todo o dia, com um microfone pendurado no pescoço o caga-milhões começava a sua oferta, uma manta, mais outra manta, mais um conjunto de lençóis, mas pelo mesmo preço mais outra manta ainda e em cima da pilha mais um conjunto de atoalhados, a mulher e a filha corriam para amontoar os artigos oferecidos e vindo do meio da multidão, muito provavelmente o homem da vermelhinha, aparecia o primeiro comprador.

Este fazia o papel o pintassilgo ou do cholim que se usava na murta dos que armavam aos pássaros, ao pousar criava a ilusão de que um pousava o que levava o bando a pousar. Atrás do primeiro que tinha decidido comprar os hesitantes avançavam.  O caga milhões foi uma figura de sucesso, de tanto sucesso que ainda nas últimas autárquicas teve honras de cartaz, agora o caga milhões era São.

Durante anos o caga milhões oferecia pilhas de obras a troco de obras e terminadas as eleições o povo lá ia sendo enganado pelo jogador da vermelhinha. Hoje o concelho não tem dinheiro, o caga milhões mudou de ramo, umas vezes é cantor, outras DJ e até apareceu em Faro como especialista em zonas ribeirinhas. Aquela que na política fazia de mulher do caga milhões da feira ficou com o negócio, mas a decadência é tal que a barraca pouco ou nada tem para oferecer. Até a banca de vermelhinha já desapareceu.